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*ARTHUR VIRGÍLIO

Hoje (sábado), 31 de março, teremos 25 anos, um quarto de século, portanto, da morte de meu pai. A família mandará rezar missa na Matriz, às 19h00, registrando a data tão significativa para os filhos, netos, bisnetos, parentes e amigos do grande brasileiro e amazonense.

Arthur Virgílio Filho foi Deputado Estadual por três intensas legislaturas, tendo sido líder de oposição e de governo, além de Presidente da Assembleia Legislativa, Secretário de Economia e Finanças e de Interior e Justiça. Foi Deputado Federal entre 1959/62, ocupando a primeira vice-liderança e a liderança do seu partido, o PTB de João Goulart e Leonel Brizola. Eleito Senador para a legislatura 1963/1971, acumulou a liderança trabalhista com a do governo do Presidente Goulart.

Com o golpe de Estado de março/abril de 1964, quando a maioria dos governistas de então, aderiu ao poder que emergia, Arthur virou automaticamente o primeiro líder, no Senado, da resistência à ditadura que se implantava. Dos 66 senadores da época, apenas dois não votaram no Marechal Castelo, na eleição indireta que lhe procurou legitimar o poder: o baiano Josafá Marinho, homem de honra inquestionável, e o amazonense Arthur Virgílio Filho, caboclo de fibra e coerência.

Quando o Presidente da Casa, o paulista Auro Soares de Moura Andrade, convocava os líderes a orientarem suas bancadas para a votação, chegou a vez de meu pai: "Como vota o PTB, ilustre líder Arthur Virgílio?". Ouviu como resposta: "Sou um líder sem liderados. O restante da bancada trabalhista, num "realismo" que não aceito, votará em Castelo. Eu prefiro ficar com minha consciência de democrata, fiel à Constituição Federal e ao Presidente constitucional João Belchior Marques Goulart". Ouvimos isso pelo rádio e sabíamos que tempos duros estavam começando, mas, minha mãe à frente, ficamos explodindo de orgulho da figuraça que sempre encontrava forças para enfrentar e vencer o medo.

Tempos depois, o líder do novo governo, Senador Daniel Krieger, homem de bem e grande amigo de Arthur, apresentou-lhe a seguinte proposta: "para de falar, mergulha por uns tempos, depois o Presidente Castelo te convida para estares ao seu lado e as possibilidades de ele te nomear Ministro da Justiça são grandes". Krieger ouviu um carinhoso e respeitoso não: "com que cara vou descer em Manaus? Com que cara vou encarar minha mulher e meus filhos?"

Continuou na sua tribuna, cada vez mais atrevido, até que o Ato Institucional número 5, o instrumento mais odioso de todos que a ditadura perpetrou, lhe cassou o mandato e suspendeu os direitos políticos por 10 anos. Arthur tinha apenas 48 anos de idade. Depois disso, mesmo após a anistia, não mais quis saber de disputar eleições, embora nunca tenha deixado de participar da vida pública.

Sou muito grato ao ex-Reitor Hindemberg Frota e à atual Reitora Marcia Perales, que propiciaram, junto com o Conselho Universitário, que o campus passasse a se chamar "Senador Arthur Virgílio Filho", por proposta do querido amigo de sempre Clynio de Araújo Brandão, acolhida unanimemente pelos seus pares. É que tentaram esconder por décadas que Arthur fora o criador da moderna UFAM que aí está, logrando habilmente aprovar seu meritório Projeto de Lei em menos de quatro anos. A professora e membro da Academia Amazonense de Letras, Rosa Brito, registra essa passagem em consistente livro que publicou.

Antes de Arthur, só se estudava Direito e Ciências Econômicas em Manaus. Por iniciativa dele, o cenário mudou e o Amazonas parou de "exportar" estudantes para outros estados, sob o risco de muitos nem retornarem à terra natal.

Um quarto de século. Para nós, filhos do pai amoroso que era também a encarnação de Ajuricaba, é como se fosse ontem. Afinal, gente como ele não morre. Sua obra atravessa os tempos. Sua lembrança é para sempre.

*Diplomata

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