"Eduardo Bolsonaro fala de um passado que desconhece. Fala de um Ato Institucional cujas consequências só dimensiona quem viveu o período. Fala com a facilidade dos ignorantes. Clama por um governo autoritário e discorre sobre o que não se interessa em conhecer. Vomita sandices, não tem preparo", critica a jornalista Denise Assis, pesquisadora do período da Ditadura Militar no Brasil
(Foto: Pablo Valadares)
Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
Eduardo Bolsonaro é um fedelho. Repito. Um fedelho. Digo isto com a autoridade de quem tem um filho exatamente da mesma idade desse rapaz. As diferenças param por aí, porque o meu filho estudou e não opina sobre nada do que não conheça profundamente. E, ao contrário desse playboy, sabe exatamente o que foi o Ato Institucional – nº 5 (AI-5), com que este rapazinho ameaça a sociedade brasileira. Eduardo Bolsonaro não tem autoridade para isto. Lança mão do discurso enviesado e autoritário do pai e da herança maldita da ignorância cultivada em família.
No ano em que este jovem nasceu, 1984, a ditadura dava os seus últimos suspiros, agonizava. O Congresso havia derrotado, em abril, a emenda pelas Diretas. Um mês depois do seu nascimento, em julho - no dia 12 de agosto - por um arranjo do PFL com o senhor Tancredo Neves e o Serviço Nacional de Informações, o vovô do Aécio foi escolhido na Convenção do PMDB (antigo) para concorrer ao cargo de presidente, via voto indireto, no Colégio Eleitoral.
Com o desfecho trágico da morte do então “escolhido”, o já indicado ministro do Exército, Otávio Medeiros, juntamente com os seus amigos do SNI deram o golpe mais uma vez num país calejado e traumatizado. Impôs a figura de um vice não juramentado, traindo a Constituição. A Carta dizia que o substituto seria o vice (e nós ainda não tínhamos um), ou o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Como Ulysses tinha antipatia dos militares e costumava chamar os ditadores de “gorilas”, era detestado pelas fileiras e, claro, foi vetado.
É possível que este fedelho – repito: fedelho – não saiba de nada disto e tenha literalmente raiva de quem sabe. Desconheço o teor do que lhes é cobrado numa prova para “escrivão da Polícia Federal”. Certamente nada do que se passou de fato na história recente, no Brasil em que ele nasceu.
Eduardo Bolsonaro fala de um passado que desconhece. Fala de um Ato Institucional cujas consequências só dimensiona quem viveu o período. Fala com a facilidade dos ignorantes. Clama por um governo autoritário e discorre sobre o que não se interessa em conhecer. Vomita sandices, não tem preparo. Tem arrogância, prepotência e a distorção de personalidade de quem foi criado por um “pai patrão”. Talvez em lugar de carinho o Jair costumasse dar “ordem unida”, dentro de casa. Basta ver que eles não têm nome. Têm números. Só falta receberem aquela placa metálica com numeração, como os soldados em batalha.
E, o que é pior: suas ameaças ao povo brasileiro, amante da democracia, da liberdade e da ordem, foi dita para uma jornalista veterana, com um passado ligado a esta história. Leda Nagle, a quem Eduardo discorreu sobre a “providência” a ser tomada (a reedição do AI-5), caso a população já pela tampa do despreparo, do arrocho, das improvisações e da inoperância desse governo, vá para as ruas, não esboçou reação. Leda é prima de Fernando Gabeira, que embora rejeite o passado na luta contra a ditadura, foi um militante exilado.
Em tom de pilhéria, ela limitou-se a emendar com um sorriso congelado nos lábios: “igual àquela sua frase, dois cabos (sic) e um soldado? Foi uma confusão que você arrumou ali...” Leda proporcionou ao fedelho – repito: fedelho – a oportunidade de dar uma desculpa esfarrapada para a ameaça feita ao Supremo Tribunal Federal (STF) meses antes do pai ser eleito.
Em 2018 Eduardo Bolsonaro foi eleito deputado federal, pelo PSL - partido com o qual está em pé de guerra - com 1.843.735 votos, sendo o mais votado da história do país, por São Paulo. Seu escritório no estado está às moscas, sua agenda é Brasília ou Rio de Janeiro, onde tem domicílio. Não creio nem mesmo que 100% do seu eleitorado concorde com as sandices que diz. Eduardo Bolsonaro precisa voltar aos bancos escolares.
Fritar hamburgueres e esquiar em território americano foram atividades que não lhe proporcionaram conhecimento do que foi o passado deste país e, tampouco, que compete a um deputado zelar pela Constituição e a democracia. Ao ameaçar a população com tamanho retrocesso, Eduardo Bolsonaro ofende a memória dos que se foram em nome desses princípios, e dos que hoje assistem, estupefatos, seus direitos e a soberania serem surrupiados por uma família de ignorantes da história e do que é o verdadeiro Brasil.
(Foto: Pablo Valadares)
Por Denise Assis, para o Jornalistas pela Democracia
Eduardo Bolsonaro é um fedelho. Repito. Um fedelho. Digo isto com a autoridade de quem tem um filho exatamente da mesma idade desse rapaz. As diferenças param por aí, porque o meu filho estudou e não opina sobre nada do que não conheça profundamente. E, ao contrário desse playboy, sabe exatamente o que foi o Ato Institucional – nº 5 (AI-5), com que este rapazinho ameaça a sociedade brasileira. Eduardo Bolsonaro não tem autoridade para isto. Lança mão do discurso enviesado e autoritário do pai e da herança maldita da ignorância cultivada em família.
No ano em que este jovem nasceu, 1984, a ditadura dava os seus últimos suspiros, agonizava. O Congresso havia derrotado, em abril, a emenda pelas Diretas. Um mês depois do seu nascimento, em julho - no dia 12 de agosto - por um arranjo do PFL com o senhor Tancredo Neves e o Serviço Nacional de Informações, o vovô do Aécio foi escolhido na Convenção do PMDB (antigo) para concorrer ao cargo de presidente, via voto indireto, no Colégio Eleitoral.
Com o desfecho trágico da morte do então “escolhido”, o já indicado ministro do Exército, Otávio Medeiros, juntamente com os seus amigos do SNI deram o golpe mais uma vez num país calejado e traumatizado. Impôs a figura de um vice não juramentado, traindo a Constituição. A Carta dizia que o substituto seria o vice (e nós ainda não tínhamos um), ou o presidente da Câmara, Ulysses Guimarães. Como Ulysses tinha antipatia dos militares e costumava chamar os ditadores de “gorilas”, era detestado pelas fileiras e, claro, foi vetado.
É possível que este fedelho – repito: fedelho – não saiba de nada disto e tenha literalmente raiva de quem sabe. Desconheço o teor do que lhes é cobrado numa prova para “escrivão da Polícia Federal”. Certamente nada do que se passou de fato na história recente, no Brasil em que ele nasceu.
Eduardo Bolsonaro fala de um passado que desconhece. Fala de um Ato Institucional cujas consequências só dimensiona quem viveu o período. Fala com a facilidade dos ignorantes. Clama por um governo autoritário e discorre sobre o que não se interessa em conhecer. Vomita sandices, não tem preparo. Tem arrogância, prepotência e a distorção de personalidade de quem foi criado por um “pai patrão”. Talvez em lugar de carinho o Jair costumasse dar “ordem unida”, dentro de casa. Basta ver que eles não têm nome. Têm números. Só falta receberem aquela placa metálica com numeração, como os soldados em batalha.
E, o que é pior: suas ameaças ao povo brasileiro, amante da democracia, da liberdade e da ordem, foi dita para uma jornalista veterana, com um passado ligado a esta história. Leda Nagle, a quem Eduardo discorreu sobre a “providência” a ser tomada (a reedição do AI-5), caso a população já pela tampa do despreparo, do arrocho, das improvisações e da inoperância desse governo, vá para as ruas, não esboçou reação. Leda é prima de Fernando Gabeira, que embora rejeite o passado na luta contra a ditadura, foi um militante exilado.
Em tom de pilhéria, ela limitou-se a emendar com um sorriso congelado nos lábios: “igual àquela sua frase, dois cabos (sic) e um soldado? Foi uma confusão que você arrumou ali...” Leda proporcionou ao fedelho – repito: fedelho – a oportunidade de dar uma desculpa esfarrapada para a ameaça feita ao Supremo Tribunal Federal (STF) meses antes do pai ser eleito.
Em 2018 Eduardo Bolsonaro foi eleito deputado federal, pelo PSL - partido com o qual está em pé de guerra - com 1.843.735 votos, sendo o mais votado da história do país, por São Paulo. Seu escritório no estado está às moscas, sua agenda é Brasília ou Rio de Janeiro, onde tem domicílio. Não creio nem mesmo que 100% do seu eleitorado concorde com as sandices que diz. Eduardo Bolsonaro precisa voltar aos bancos escolares.
Fritar hamburgueres e esquiar em território americano foram atividades que não lhe proporcionaram conhecimento do que foi o passado deste país e, tampouco, que compete a um deputado zelar pela Constituição e a democracia. Ao ameaçar a população com tamanho retrocesso, Eduardo Bolsonaro ofende a memória dos que se foram em nome desses princípios, e dos que hoje assistem, estupefatos, seus direitos e a soberania serem surrupiados por uma família de ignorantes da história e do que é o verdadeiro Brasil.
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