Em evento em Boston, vice afirmou neste domingo que presidente é 'pouco
compreendido' e reiterou que a parceria entre os dois é 'total'
Ricardo Senra Enviado especial da BBC News Brasil a Boston
Direito de imagem Ueslei Marcelino/Reuters Image caption
Aplaudido mais de 10 vezes, duas delas de pé, o vice-presidente Hamilton Mourão disse neste domingo que o presidente Jair Bolsonaro é "criticado e muitas vezes tão pouco compreendido" e afirmou que, "talvez, pela minha personalidade, escolheria outras pessoas para trabalhar comigo", quando questionado sobre o que faria de diferente se fosse, ele próprio, o presidente do Brasil.
O comentário sobre a incompreensão de Bolsonaro gerou risos na plateia, formada principalmente por estudantes da Harvard e do MIT e por empresários que participam de conferência sobre o Brasil nos EUA neste fim de semana. A audiência reagiu da mesma forma quando o vice-presidente disse que poderia escolher um gabinete distinto do de Bolsonaro.
Alvo de críticas de parte da base de Bolsonaro por supostamente criar um antagonismo em relação ao presidente - o que Mourão negou veementemente a jornalistas neste sábado -, o general disse que a meta de Bolsonaro é "mudar o futuro".
"Para Bolsonaro, mudar o futuro é a suprema arte de um governo. A visão do presidente é muito clara, ele está trabalhando para as próximas gerações, e não para as próximas eleições."
Diante da plateia lotada, Mourão repetiu que sua parceria com o presidente é "total".
"A gente discute, a gente debate as ideias, mas, quando ele toma a decisão, estou com a decisão dele 100%."
Foi novamente aplaudido.
'Ditadura nunca mais'
A plateia se levantou duas vezes para bater palmas. A primeira foi após a resposta do vice-presidente a um professor de Harvard que questionou a presença de militares no governo.
Hoje, o gabinete de ministros de Bolsonaro conta com 7 pessoas com carreira nas Forças Armadas.
"O senhor não teme que a associação das forças armadas, que são uma instituição permanente do Estado brasileiro, com um governo, que é algo necessariamente temporário, pode corroer a legitimidade e a unidade das Forças Armadas? Por que a lição que o general Geisel aprendeu não se aplica ao senhor?", questionou o professor e cientista político Fernando Bizzarro.
"O Geisel não foi eleito. Eu fui", respondeu o vice, gerando comoção na plateia.
À fala se seguiu um grito de um homem nos fundos do auditório: "Ditadura nunca mais!".
Ele foi imediatamente expulso por seguranças da universidade.
O segundo momento de aplausos de pé foi o encerramento da fala do vice-presidente, que segue neste domingo para Washington, onde se encontra nesta segunda com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, entre outros compromissos.
'Venezuelanos trouxeram sarampo de volta'
Todas as respostas de Mourão foram alvo de aplausos, exceto duas.
Questionado por uma porta-voz da universidade sobre os planos do governo para a Saúde, sobre o avanço de doenças no país e sobre a dificuldade do governo de preencher as vagas remanescentes do programa Mais Médicos, que não conta mais com profissionais cubanos, Mourão foi mais sucinto.
Na última quinta, o Ministério da Saúde confirmou que, de janeiro a março, 1.052 médicos - ou 15% das vagas preenchidas após a saída de Cuba - desistiram do programa dedicado a saúde básica. Mourão não fez nenhum comentário a respeito.
O vice chamou atenção ao creditar o avanço do sarampo no país à migração venezuelana pelo norte do país.
"Nós temos a visão de que o sarampo entrou vindo com os imigrantes que entraram da Venezuela. Trouxeram essa doença de volta", afirmou.
"Ela (a doença) estava primeiro concentrada na região de Roraima, depois já apareceu em Belém e agora já temos casos lá na região de SP. A doença viaja com uma velocidade grande."
Em outro momento, em resposta a questão sobre mudanças climáticas, Mourão sugeriu que o aquecimento global pode ser fruto de um processo natural, independente da ação do homem.
"Ninguém tem dúvida de que o clima está mudando. Não sabemos se essa mudança climática é uma daquelas da senoide da vida da Terra, como já ocorreu em outras fases, ou se veio para ficar."
A fala gerou gritos de "não" vindo da plateia.
Sistema prisional e Educação
Em sua fala inicial, Mourão classificou os presídios brasileiros como "colônias de férias".
"O sistema prisional deve ser reestruturado de forma a impedir que as prisões sejam as colônias de férias que vemos hoje, de onde os cartéis comandam o crime organizado", disse.
A fala contraria o discurso do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso, que dois dias antes classificou o sistema carcerário brasileiro como um fracasso pela superlotação e más condições a que os presos são impostos.
Mais tarde, questionado sobre segurança, Mourão classificou presídios como "masmorras".
"Tem prisões que são masmorra, a pessoa não vai se corrigir", afirmou.
"A instituição que servi durante 46 anos, o Exército brasileiro, tem um regulamento disciplinar. O regulamento diz que a prisão só é válida se ela educa a pessoa. Como é que eu vou educar a pessoa com uma prisão que é uma masmorra, onde ele vai conviver com toda sorte de elementos totalmente desajustados, sem ter uma atividade laboral e uma progressão educacional? Temos que mudar", disse, aplaudido por todo o auditório.
Mourão voltou a comentar a crise que o governo enfrenta no ministério da Educação. Bolsonaro disse a jornalistas que deve tomar uma decisão em relacão ao futuro do ministro Ricardo Vélez na próxima segunda-feira.
"Estamos com problema no ministério da Educação. O presidente vai tomar uma decisão a esse respeito amanhã, ele ja definiu", disse.
"A nossa visão, nossa do governo, é que a gente tem que investir pesado na educação básica. Nós investimos muito no superior e pouco na educação básica."
Ricardo Senra Enviado especial da BBC News Brasil a Boston
Direito de imagem Ueslei Marcelino/Reuters Image caption
Aplaudido mais de 10 vezes, duas delas de pé, o vice-presidente Hamilton Mourão disse neste domingo que o presidente Jair Bolsonaro é "criticado e muitas vezes tão pouco compreendido" e afirmou que, "talvez, pela minha personalidade, escolheria outras pessoas para trabalhar comigo", quando questionado sobre o que faria de diferente se fosse, ele próprio, o presidente do Brasil.
O comentário sobre a incompreensão de Bolsonaro gerou risos na plateia, formada principalmente por estudantes da Harvard e do MIT e por empresários que participam de conferência sobre o Brasil nos EUA neste fim de semana. A audiência reagiu da mesma forma quando o vice-presidente disse que poderia escolher um gabinete distinto do de Bolsonaro.
Alvo de críticas de parte da base de Bolsonaro por supostamente criar um antagonismo em relação ao presidente - o que Mourão negou veementemente a jornalistas neste sábado -, o general disse que a meta de Bolsonaro é "mudar o futuro".
"Para Bolsonaro, mudar o futuro é a suprema arte de um governo. A visão do presidente é muito clara, ele está trabalhando para as próximas gerações, e não para as próximas eleições."
Diante da plateia lotada, Mourão repetiu que sua parceria com o presidente é "total".
"A gente discute, a gente debate as ideias, mas, quando ele toma a decisão, estou com a decisão dele 100%."
Foi novamente aplaudido.
'Ditadura nunca mais'
A plateia se levantou duas vezes para bater palmas. A primeira foi após a resposta do vice-presidente a um professor de Harvard que questionou a presença de militares no governo.
Hoje, o gabinete de ministros de Bolsonaro conta com 7 pessoas com carreira nas Forças Armadas.
"O senhor não teme que a associação das forças armadas, que são uma instituição permanente do Estado brasileiro, com um governo, que é algo necessariamente temporário, pode corroer a legitimidade e a unidade das Forças Armadas? Por que a lição que o general Geisel aprendeu não se aplica ao senhor?", questionou o professor e cientista político Fernando Bizzarro.
"O Geisel não foi eleito. Eu fui", respondeu o vice, gerando comoção na plateia.
À fala se seguiu um grito de um homem nos fundos do auditório: "Ditadura nunca mais!".
Ele foi imediatamente expulso por seguranças da universidade.
O segundo momento de aplausos de pé foi o encerramento da fala do vice-presidente, que segue neste domingo para Washington, onde se encontra nesta segunda com o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, entre outros compromissos.
'Venezuelanos trouxeram sarampo de volta'
Todas as respostas de Mourão foram alvo de aplausos, exceto duas.
Questionado por uma porta-voz da universidade sobre os planos do governo para a Saúde, sobre o avanço de doenças no país e sobre a dificuldade do governo de preencher as vagas remanescentes do programa Mais Médicos, que não conta mais com profissionais cubanos, Mourão foi mais sucinto.
Na última quinta, o Ministério da Saúde confirmou que, de janeiro a março, 1.052 médicos - ou 15% das vagas preenchidas após a saída de Cuba - desistiram do programa dedicado a saúde básica. Mourão não fez nenhum comentário a respeito.
O vice chamou atenção ao creditar o avanço do sarampo no país à migração venezuelana pelo norte do país.
"Nós temos a visão de que o sarampo entrou vindo com os imigrantes que entraram da Venezuela. Trouxeram essa doença de volta", afirmou.
"Ela (a doença) estava primeiro concentrada na região de Roraima, depois já apareceu em Belém e agora já temos casos lá na região de SP. A doença viaja com uma velocidade grande."
Em outro momento, em resposta a questão sobre mudanças climáticas, Mourão sugeriu que o aquecimento global pode ser fruto de um processo natural, independente da ação do homem.
"Ninguém tem dúvida de que o clima está mudando. Não sabemos se essa mudança climática é uma daquelas da senoide da vida da Terra, como já ocorreu em outras fases, ou se veio para ficar."
A fala gerou gritos de "não" vindo da plateia.
Sistema prisional e Educação
Em sua fala inicial, Mourão classificou os presídios brasileiros como "colônias de férias".
"O sistema prisional deve ser reestruturado de forma a impedir que as prisões sejam as colônias de férias que vemos hoje, de onde os cartéis comandam o crime organizado", disse.
A fala contraria o discurso do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luis Roberto Barroso, que dois dias antes classificou o sistema carcerário brasileiro como um fracasso pela superlotação e más condições a que os presos são impostos.
Mais tarde, questionado sobre segurança, Mourão classificou presídios como "masmorras".
"Tem prisões que são masmorra, a pessoa não vai se corrigir", afirmou.
"A instituição que servi durante 46 anos, o Exército brasileiro, tem um regulamento disciplinar. O regulamento diz que a prisão só é válida se ela educa a pessoa. Como é que eu vou educar a pessoa com uma prisão que é uma masmorra, onde ele vai conviver com toda sorte de elementos totalmente desajustados, sem ter uma atividade laboral e uma progressão educacional? Temos que mudar", disse, aplaudido por todo o auditório.
Mourão voltou a comentar a crise que o governo enfrenta no ministério da Educação. Bolsonaro disse a jornalistas que deve tomar uma decisão em relacão ao futuro do ministro Ricardo Vélez na próxima segunda-feira.
"Estamos com problema no ministério da Educação. O presidente vai tomar uma decisão a esse respeito amanhã, ele ja definiu", disse.
"A nossa visão, nossa do governo, é que a gente tem que investir pesado na educação básica. Nós investimos muito no superior e pouco na educação básica."
Comentários
Postar um comentário
Seja bem vindo
que você achou?
Meta o dedo
Deixe seu comentário