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Bolsonaro admite não está preparado para ser presidente do Brasil

Bolsonaro deveria renunciar e chamar eleições


Foram necessários apenas 3 meses para Bolsonaro admitir aquilo que boa parte dos brasileiros já sabia: ele não tem condição nenhuma para ser presidente da República. Se Bolsonaro nasceu para ser militar como admitiu nesta sexta-feira, 5, numa solenidade no Palácio do Planalto, por que insistiu, durante 27 anos, em ser parlamentar?


Por Florestan Fernandes Júnior

Isso foi no mínimo desonesto com seus eleitores. Nestas quase três décadas na Câmara Federal, o deputado Bolsonaro apresentou 170 projetos de lei, a maioria sem relevância para o país. Exemplos: aplaudir a bandeira brasileira após a execução do hino nacional, homenagem a Enéas Carneiro reconhecendo o ex-deputado como herói da Pátria ou ainda suspender o uso do nome social de travestis e transexuais nos boletins de ocorrência e nas matrículas de instituições de ensino.

Na sua longa carreira parlamentar, Bolsonaro aprovou apenas dois projetos: um que estendia a isenção do IPI para bens de informática e outro que autorizava o uso da "pílula do câncer". Só conseguir aprovar um projeto a cada 16 anos e meio é a demonstração do desprestígio e da falta de articulação política de Bolsonaro junto aos seus colegas de parlamento. Talvez isso explique as derrotas seguidas que o governo vem sofrendo no Congresso. Os líderes das duas casas legislativas conhecem muito mais e melhor as limitações de Bolsonaro do que o presidente conhece as fraquezas dos parlamentares com quem conviveu por décadas.

Mas se falta aptidão de Bolsonaro para a política, sobra esperteza eleitoral nele. O capitão da reserva conseguiu, em pouco tempo, eleger seu clã: três filhos e mais sua ex-mulher para os diversos órgãos legislativos do país. E foi ainda mais longe ao se eleger para o cargo mais alto da Nação por uma legenda minúscula e desconhecida.

Já na carreira em que se considera vocacionado, Bolsonaro também foi um completo desastre. Ainda como tenente, quebrou os princípios de respeito à hierarquia militar chegando a ser preso por 15 dias. Acabou sendo inocentado pelo STM (Superior Tribunal Militar) e logo após a absolvição, em 1988, foi para a reserva e elegeu-se vereador com apoio da caserna.

Nos quase 100 dias de governo, Bolsonaro demostrou uma inaptidão total para o cargo. As mesmas deficiências que marcaram a carreira dele no Exército e no Congresso se repetem agora na presidência da República. Sua equipe é uma colcha de retalhos de pessoas que, como ele, são completamente inadequadas para as funções executivas a que foram nomeadas. Ministros indicados pelos filhos twiteiros, pela igreja evangélica, e pelo guru "intelectual" do clã, o astrólogo que se auto intitula filósofo. Os únicos que destoam um pouco deste caos administrativo são os militares, que detêm alguma experiência logística aprendida em ações dentro e fora do país.

Já que Bolsonaro foi honesto em dizer que não nasceu para ser presidente, o melhor a fazer é renunciar e chamar novas eleições que possam dar um rumo para o país. Ainda dá tempo de salvar a Nação. Que ele tenha, ao menos, a grandeza que o momento exige.

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