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SANTUÁRIO Corais na foz do Amazonas: tesouro natural que precisa ser preservado

Recife de corais em risco.

Uma das maiores descobertas da oceanografia brasileira, região na foz do rio Amazonas é ameaçada pela indústria do petróleo

Camila Brandalise

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“Uma floresta amazônica submersa.” É assim que o oceanólogo Fabiano Thompson, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), define o recife encontrado na foz do rio Amazonas. São mais de 9 mil quilômetros quadrados, área 20% maior do que a região metropolitana de São Paulo, com corais, esponjas gigantes e peixes. Thompson é um dos líderes da expedição que descobriu o hábitat marinho e agora começa a documentar a região. Para ele, a existência desse sistema ainda é uma surpresa para os pesquisadores.



Pesquisador em expedição para mapear a área

Na região, a água turva, carregada de sedimentos do rio, desemboca no Atlântico, formando o que é chamado de pluma fluvial. Devido à baixa luminosidade, a fotossíntese praticamente inexiste. Mesmo assim, uma vasta biodiversidade marinha já foi registrada, tornando o recife da Amazônia uma das grandes descobertas da oceanografia brasileira. A pesquisa é recente e só 5% do ecossistema foi mapeado. Os cientistas que fazem parte do projeto, comandado pelo Greenpeace, acreditam que a partir de agora novas espécies deverão ser descobertas. Antes, é preciso vencer uma ameaça.

A área foi registrada pela Agência Nacional de Petróleo (ANP) e é objeto de rodadas de licitações de empresas que já conseguiram ou conseguirão autorização para explorar alguns blocos. “Em acontecendo a prospecção, há um risco concreto de um acidente ambiental de grandes proporções”, afirma Thompson. As correntes marítimas e os sedimentos carregados pelo rio aumentam a chance de vazamentos. Um incidente desse tipo já seria uma tragédia, mas a situação pode se tornar mais dramática porque não há tecnologia para remover o petróleo em um ecossistema como o recife da Amazônia. “A área é muito sensível”, diz Thompson. Segundo o Greenpeace, 95 poços foram perfurados na região até agora, mas 27 foram abandonados por incidentes mecânicos. Outros foram deixados de lado por não serem econômica ou tecnicamente viáveis.

Perda irreversível

Em termos geológicos, o recife da Amazônia é uma formação recente, tendo entre 12 a 14 mil anos. Está dividido em três setores: o norte, com vasta biodiversidade de fauna, é onde estão os corais e os peixes; o central, com pluma menos espessa; e o sul, com águas mais claras. Entre as espécies desconhecidas já descobertas estão esponjas com 2 metros de diâmetro pesando mais de 100 kg, localizadas na área norte. Se a área for degradada, a perda ambiental será irreversível. Causará também estragos a vidas humanas, já que o ecossistema é importante para a sobrevivência das comunidades de pescadores ao longo da costa amazônica.

Desde que passou a vigorar o acordo de Paris, em 2016, o Brasil se comprometeu a dar máxima importância a questões climáticas. Ao evitar a exploração de petróleo na área do recife, mostrará ao mundo que está comprometido também com a preservação de seu mais novo tesouro natural.

Natureza selvagem
Com 1 mil quilômetros de extensão, o recife vai da Guiana Francesa ao Maranhão. Apenas 5% do conjunto já foi mapeado

> Área total: 9.500 quilômetros quadrados (20% maior que a Grande São Paulo)

> Profundidade: varia entre 25 e 120 metros

> Diversidade: abriga corais, esponjas e algas calcárias

> Riscos: 95 poços para extração de petróleo foram escavados na região, segundo o Greenpeace

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