Artigo
*Dom Sérgio Castriani*
Arcebispo Metropolitano de Manaus
No dia 19 de abril celebramos o Dia do Índio. Em muitos lugares o dia se transforma em semana. Uma semana de manifestações culturais e de tomada de consciência da situação dos povos indígenas. É uma ocasião excelente para que conheçamos melhor quem são esses homens e mulheres, cidadãos de nosso país, que guardam e assumem a identidade indígena, isto é, se veem como descendentes daqueles que aqui viviam antes da invasão vinda da Europa. Povos que se reconhecem herdeiros de uma história que tem suas raízes bem antes do descobrimento. Pessoalmente sinto-me privilegiado por conhecer muitos desses povos. Minhas andanças, viagens e visitas pastorais, bem como o compromisso da minha igreja com a organização indígena, com a luta pela terra, e ainda pela educação e atenção à saúde diferenciadas me levaram a ter uma atitude de grande respeito pelos povos indígenas que conheci e conheço e pelas centenas de homens e mulheres que assumem a sua identidade, guardando e vivendo valores em grande parte perdidos pela nossa civilização.
A coragem de viver que levou a guardar tradições ancestrais ou a redescobri-las, a lutar pela terra, não visando o lucro ou a propriedade privada mas a sobrevivência do povo, a solidariedade e a percepção de que era preciso se organizar, merecem uma atitude de respeito. Quando se conhece melhor as nações indígenas, se percebe a riqueza humana que está por trás de seus nomes. Só lembrando alguns: tikuna, cocama, cambeba, kanamari, katuquina, deni, maku, maiuruna, miranha e assim por diante. Cada um desses nomes carrega consigo uma história, uma cultura, uma visão de mundo, uma espiritualidade. O Brasil é um pais privilegiado, pois além de abrigar um povo que é fruto da mistura de vários povos, conserva descendentes diretos de europeus, asiáticos e africanos, mas também essa imensa gama de descendentes dos povos originários. Temos uma riqueza humana invejável. Por isso ao respeito se junta o orgulho de ser brasileiro com todos esses brasileiros e brasileiras. Mas essa visão não deve ser ingênua. As populações indígenas incomodam e há séculos suas terras continuam cobiçadas e seus direitos desrespeitados. A saúde indígena sofre pelo descaso, falta de organização eficiente e muitas vezes corrupção. Nem todos os responsáveis assumiram com garra a educação diferenciada. Infelizmente há muitos povos ameaçados na sua integridade física e cultural.
O Dia do Índio serve para tomarmos consciência desta realidade. A construção de uma identidade brasileira que conserve toda a riqueza dos povos que a compõem não é tarefa fácil. A presença, a vida e a teimosia dos povos e organizações indígenas na luta pelo direito de viver e existir não nos deixam ficar acomodados e nos convidam a sermos solidários. Que nesse dia os índios possam saber da nossa admiração, respeito e, sobretudo, solidariedade. Como gostaria de saudar pessoalmente amigos e amigas que não tiveram medo de ser o que são e abriram caminhos para que outros vivam a sua verdade, mesmo com as ambiguidades comuns aos humanos.
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