*ARTHUR VIRGÍLIO
Lisboa – Nosso conterrâneo, nascido no bairro do Alvorada, é hoje uma estrela de repercussão mundial. Dono do cinturão dos penas do UFC, depois de tê-lo sido antes no WEC, organização agora também pertencente aos irmãos Ferttita e a Dana White, José Aldo sobra em sua categoria. Dificilmente encontrará quem o surpreenda, nos próximos anos.
Sei que o destino haverá de empurrá-lo para jogar nos leves. Parece-me questão de tempo. Quanto mais sua superioridade ficar patente entre os penas, mais pressão sofrerá para subir de peso e de categoria.
Minha modesta opinião é que isso não deveria acontecer logo. Primeiro varrer o time dos penas. Depois, paralelamente a um trabalho físico que o adapte a enfrentar lutadores que, na atualidade, são mais fortes do que ele, cogitar a sério, quem sabe, de dar o pulo que, visivelmente, a direção do UFC deseja que ele dê.
Travar um combate aqui, outro ali, com bons lutadores peso leve, como fez, exitosamente, com Kenny Florian, pode até ser. De preferência não pondo seu cinturão em jogo, em disputa unificadora.
Mixed Martial Arts não são briga de rua, onde se tiram as diferenças irracional e espontaneamente. Ao contrário: é profissionalismo puro e Aldo haverá saber de cuidar esmeradamente de sua carreira. Tem atrás dele o correto e excelente Dedé Pederneiras, que cuida de seus interesses com eficácia. Nada, portanto, de aventuras e precipitações.
Lembro-me do que fizeram com Adilson Maguila, que estava bem ranqueado no Conselho Mundial de Boxe. A falta de caráter do promotor Don King o empurrou para uma luta contra o veterano George Foreman, que resultou em derrota do brasileiro no segundo round, por contundente KO. Nem lhe deram tempo de respirar: vencido o período de quarentena imposto a quem sofre um KO, fizeram-no lutar, logo de cara, com nada mais, nada menos, que Evander Holyfield. Resultado: terrível KO, também no segundo round e fim da iniciante carreira de Maguila nos EUA.
O certo teria sido promover algumas lutas intermediárias, que lhe permitissem vencer o trauma da derrota acachapante diante de Foreman. Depois, então, que viesse Holyfield ou outro lutador de alto nível.
Sei que Maguila, em condições normais de temperatura e pressão, jamais derrotaria Holyfield, mas poderia ter lutado mais tempo e em melhores condições físicas e psicológicas, se não tivesse sido usado por Don King como mera mercadoria descartável. E ainda teve a atitude suspeitíssima do técnico de Maguila, o legendário Angelo Dundee, que treinou, por muito tempo, o maior boxeador de todos os tempos, Muhammad Ali: após um primeiro round equilibrado e impecável, a prudência ordenaria a Maguila não ficar parado diante de Holyfield; jogaria circundando o oponente, buscando contragolpeá-lo. Estranhamente, Angelo orientou Maguila no sentido de partir com tudo para o ataque e deu no que deu. Detesto acusar sem provas, mas a falta de caráter de Don King é fato público e notório e a atitude de Angelo Dundee exibiu incompetência (não era esse o seu caso) ou má fé. Quem, por exemplo, apostou que Maguila cairia no segundo round deve ter ganho muito dinheiro!
Voltemos ao campeoníssimo José Aldo. Quanta eficiência demonstrou, diante do respeitável Chad Mendes. Que KO extraordinário. A torcida, no UFC Rio II foi à loucura e Aldo enlouqueceu junto com ela: abandonou o octógono e se misturou com o povo, que já o respeitava e admirava, e agora passou a amá-lo.
Os outros dois brasileiros também tiveram desempenhos excepcionais: Rousimar "Toquinho" mereceu o prêmio de melhor finalizador da noite. Está, no meu entender, entre os top five de sua categoria.
E Vitor Belfort, que enfrentou adversário vindo da categoria abaixo, o perigoso striker Anthony Johnson, controlou o ritmo da luta o tempo inteiro. Johnson lutava entre os meio-médios, categoria do fantástico George Saint Pierre. Presenciei algumas lutas dele e sei como bate forte e eficazmente. Lutando eternamente com a balança, resolver subir para os médios e, logo de início, pegou o experiente Vitor.O favoritismo era deste, mas em luta de pegadores sempre pode acontecer tudo. Espantoso é que, desde a luta contra o excelente Josh Koshek que, entre os meio médios, só fica atrás de GSP, Anthony Johnson em nada alterou seu infantil fogo de chão. Perdeu para Josh no jiu-jitsu, perdeu para Vitor no jiu-jitsu também. E ainda foi demitido do UFC ( pela segunda vez, a primeira foi por atitude anti-esportiva), porque na hora de bater o peso, estava acima dos 84 estabelecidos como o teto da categoria. Um lutador que se arrisca a entrar num ringue ou num octógono sem saber nada de chão, deve, no mínimo, ter um parafuso frouxo na cabeça. Parece o caso do recente adversário de Vitor Belfort, que lutou bem e mereceu a vitória.
O confronto entre Vitor e Wanderlei Silva vem atrasado. Na primeira vez em que se defrontaram, Wand foi surpreendido com a explosão que recebeu e ainda não era o homem de ferro do Pride japonês. Agora, nem ele e nem Vitor vivem o auge, mas este está em melhor forma e, teoricamente, é o favorito. Infelizmente, não veremos o melhor de Vitor contra o melhor de Wand. Este, porém, será sempre um lutador perigoso para qualquer um. Seu coração é de leão.
Luta boa seria Vitor com o cafajeste Chael Sonnen, excelente wrestler, lutador arisco, infelizmente desprovido da nobreza que marca os verdadeiros campeões. Acho que Vitor poderia derrotá-lo.
Tudo indica, porém, que Sonnen vencerá Michael Bisping e disputará, pela segunda vez, o cinturão de Anderson Silva. A primeira luta entre ambos ficou mal resolvida: Sonnen massacrou Anderson durante mais de 14 minutos e, cego pelo ódio e, talvez, pelo dopping, resolveu desmoralizar o campeão mundial, estapeando-o e, para fazer isso, esticando o braço demais. Moral da história: foi finalizado, suspenso do UFC, sem nunca deixar de se dizer o campeão moral da categoria.
Anderson, desta vez, precisará ser fulminante no ataque e atento na defesa contra as perigosas quedas que Sonnen aplica em todo mundo com quem luta. O maior perigo é, digamos, o jogo do Spider não casar bem com o do falastrão. Afora essa possibilidade, que inegavelmente existe, o favoritismo é do brilhante dono do cinturão dos médios.
Aguardemos e, por enquanto, louvemos a carreira fulminante do nosso irmão amazonense José Aldo, que só tem um defeito: é leve demais. Se fosse alto e pesasse 110 quilos, seria páreo para Junior Cigano e Cain Velásquez.
*Diplomata esceve semanalmente neste blog
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