*ARTHUR VIRGÍLIO
Lisboa – O ministro Guido Mantega, que deverá deixar o governo por razões familiares, apostava, no início de 2011, que o crescimento seria entre 4,5% e 5%. Sempre acreditei em algo próximo de 3% e, oficiosamente, já sabe que o número mais provável é 2,87%, contra inflação, elevada e maquiada, de 6,5%.
Para 2012, novamente a previsão do governo é de pelo menos 4,5%, com inflação no centro da meta (4,5%). Infelizmente, errarão de novo, pois o mercado já trabalha com crescimento de 3,2%, contra inflação superior a 5,5%, ou seja, de novo bem acima da meta estabelecida pelo Banco Central.
O FMI afirma que cresceremos 3%, enquanto a média do mundo (e olhem que temos a economia americana ainda em dificuldades e a Europa em convulsão) atingirá 3,3% e os países em desenvolvimento, também na média, chegarão a 5,4%.
Tivemos, em 2011, o maior déficit em transações correntes de nossa história econômica: US$52,612 bilhões, com previsão de algo em torno de US$66 bilhões para 2012. Esses buracos são cobertos pelos dólares que nos procuram atrás dos juros elevados e que, se nos deixassem de uma hora para outra, por injunções de política econômica internacional, causariam tragédia em nosso país.
O bom senso manda observarmos com atenção dois pontos nevrálgicos dos tempos correntes: a crise europeia, que se não for enfrentada com firmeza poderá levar o mundo a outro momento de recessão (e ela não está sendo enfrentada com firmeza) e a crise decorrente do programa nuclear iraniano, que visivelmente pretende construir artefatos nucleares. A deterioração de qualquer das duas situações representará graves dificuldades para o mundo.
A deterioração das duas, então, significaria a explosão dos preços do petróleo, mais inflação e menor crescimento para todos.
A situação é delicada e triunfalismos e otimismos demagógicos deveriam sair de cena, em nome da tranquilidade futura (de curto prazo inclusive) do país.
*Diplomata escreve semanalmente neste blog
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