*ARTHUR VIRGÍLIO
Lisboa – Bem recentemente, vimos o combate entre o holandês Alistair Overeeem e o americano Brock Lesnar. Não sou de apostar, mas, se fosse, teria jogado todas as fichas no primeiro. E foi o que aconteceu, de fato, na hora da verdade.
Subiu ao octógono um Lesnar visivelmente fora de forma e visivelmente estagnado em sua forma de lutar. Achei-o, inclusive, menos musculoso do que sempre foi. Seu oponente, três quilos mais leve, trazia consigo 117 quilos de pura musculatura. Ambos "bombados", sem dúvida. Overeem, mais do que "bombado", nem parecia o jovem esguio e até ingênuo, excelente apenas no muai thai, que foi tratorizado por Maurício Shogun, nos tempos áureos do Pride japonês.
Naquela edição do Pride, Ricardo Arona derrotou Wanderlei Silva em três rounds duríssimos e Shogum não encontrou a menor dificuldade para finalizar Overeem. Na mesma noite, na final do meio pesado, um Arona bastante contundido e cansado, perdeu para um Shogun zero quilômetro. Em condições iguais, o Arona daqueles tempos era páreo para qualquer um. Basta dizer que enfrentou o, à época, invencível Fedor Emilianenko, derrubou-o quando e como quis e perdeu porque os juízes não analisaram a luta honestamente.
Voltando a Brock e Overeem, temos que um foi campeão pesado do UFC e o segundo foi campeão do Strikeforce, que hoje pertence aos donos do UFC: os irmãos Ferttita e Dana White. O holandês simplesmente espancou o americano, que reage mal na adversidade. Não consigo enxergar nele o espírito do lutador. Excelente wrestler, faz algum boxe, conhece rudimentos de iu-jitsu e, sobretudo, é extraordinariamente forte. Talvez viciado nas marmeladas do "pro-wrestling", toda vez que é testado, corre da rinha, diferente de um Minotauro, que encarna o espírito dos grandes samurais, diferente de um Wanderlei, que não se amedronta diante de nada nem de ninguém.
Com essa vitória, Alistair Overeem ganha o direito de disputar o título de Junior "Cigano" dos Santos. Sou mais o brasileiro. Mais jovem, muito forte também, detentor de preparo físico invejável, está muito bem em todos os fundamentos: já é faixa preta de jiu-jitsu, conhece um certo wrestling e um certo muai-thai, boxeia tão bem, a ponto de pensar em disputar lutas profissionais nessa modalidade. Overeem é excelente no muai thai, tem experiência de ringue e de octógono, brilhou no K-1 japonês (só trocação) e melhorou no jogo de chão, sem ser nenhum especialista.
Claro que em se tratando de dois pesos pesados, pode dar qualquer resultado. Um soco bem encaixado nocauteia mesmo. É luta, aliás, para terminar antes dos cinco rounds previstos. Mas a lógica prognostica a favor de Cigano, que deve manter seu título, à espera de novo desafiante, quem sabe concedendo a revanche a Cain Velásquez, quem sabe, se Dana White quiser promover um lutaço, enfrentando Jon Jones que, normalmente, pesa 118 quilos, pesa 93 na véspera das lutas e sobe ao octógono já comuns 106 ou 108.
Considero um despropósito deixarem um homem com aquele tamanho e aquela força, com 2,14 m de envergadura – um verdadeiro condor brasileiro que tem um metro de altura e 2,15 m de asas abertas – lutar contra meio pesados autênticos como Lyoto, Shogun e outros tais. A praia de Jon Jones deveria ser a dos pesados, competindo com Cigano, Overeem, Minotauro, Frank Mir, James Carwin e Brock Lesnar. Nada de fazê-lo lutar com um Anderson Silva de 36 anos e bem mais leve. Assim como é negativo fazer George Saint Pierre encarar Anderson. Anderson muito dificilmente se criaria diante de Jones e GSP não teria grandes chances frente a Anderson.
Pelo que parece, Jones vai varrer a categoria dos meio pesados e o jeito vai ser jogá-lo na de cima, onde ele poderá brilhar, porém onde não passeará. MMA, afinal, não é Disneylândia.
*Diplomata escreve semanalmente para esse blog
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