BELÉM - Fenômeno popular que desafia explicações de sociólogos, teólogos e historiadores, mobilizando corações e mentes há 215 anos em torno de uma pequena imagem conduzida dentro de uma berlinda, o Círio de Nazaré reuniu no domingo (14) mais de 2 milhões de pessoas, segundo levantamento da Polícia Militar.
Para quem acompanhou a romaria desde cedo, como o turista pernambucano José Orlando Costa, de 48 anos, o sentimento era um só: 'é uma benção divina isto aqui. Não tem nada igual'. E não tinha mesmo. Até a ministra do Turismo, Marta Suplicy, deixou escapar que estava 'impressionada' com tamanho fervor religioso. Tanto que prometeu divulgar o Círio do próximo ano no exterior.
Os pagadores de promessa, como sempre, roubaram a cena. Eles vieram de todos os cantos do Pará e de outros estados, seguindo à risca o ritual do sacrifício e, mesmo extenuados, voltaram para suas casas com a consciência do dever cumprido. Gente carregando cruz, outros seguindo o trajeto de joelhos. Havia quem preferisse gestos mais discretos, mas carregados de fé e solidariedade, como amenizar o calor dos romeiros distribuindo garrafas com água mineral.
Cerca de 20 mil homens do Exército, Marinha e Aeronáutica, além da Polícia Militar, tiveram trabalho para garantir a segurança dos devotos. Apesar de reunir multidões no trajeto e nas ruas de acesso à romaria, poucos casos de acidentes e tentativas de furto foram registrados. Os voluntários da Cruz Vermelha e o pessoal da Defesa Civil, além de estudantes de escolas públicas e particulares, formaram um exército paralelo de apoio, agindo com rapidez no socorro as pessoas que passavam mal devido ao forte calor.
Corda
Por volta do meio-dia, uma pequena confusão se formou na avenida Nazaré depois do desatrelamento da primeira estação da corda do Círio. Alguns promesseiros, na tentativa de levar um pedaço do símbolo como recordação acabaram gerando uma briga, que logo foi contida. A corda de mais de 800 metros deixou de ser em forma de U desde 2004, passando a ser linear e dividida em estações. A diretoria da Festa de Nazaré avalia que sete mil pessoas pagaram promessa na corda deste ano.
Uma delas foi Éder Coelho, de 25 anos, que carregava mouses de computador e fitinhas de Nossa Senhora de Nazaré, assim como um pedaço da corda da Trasladação. Ele fez uma promessa: queria abrir uma loja de acesso à internet. Conseguiu montar a loja. Cumpre a promessa há dois anos. Mas desta vez o sufoco na corda foi grande e ele não conseguiu chegar ao final da procissão.
Devoção
Mais de dois milhões de pessoas nas ruas, unidas em uma só voz, um só corpo, um só coração. Um espetáculo de veneração em que risos e lágrimas se misturam, em que a dor do sacrifício humano é suplantada pelo desejo de agradecer a bênção alcançada. São tantas cenas, cores e sabores que tornam Belém uma cidade única, inesquecível, inebriante. Cenas como a preparação dos anjinhos que pagam as promessas feitas por seus pais. Ou o choro comovido de quem conseguiu o primeiro emprego, a primeira casa, de quem viu o filho ficar curado. O que não faltam são histórias de fé. Assim vivemos mais um Círio, cercados pelo calor de quem amamos e felizes por vermos renascer nos corações a esperança de dias melhores.
Fotos: David Alves/Ag Pa
Fonte: Portal ORM - GS
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