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Bioeconomia: alternativa para gerar renda sem destruir a floresta

Saber o que é bioeconomia pode ser ainda mais importante em um período de queimadas e desmatamentos desenfreados. Fique por dentro do tema

Manaus - Você já ouviu falar em bioeconomia? Pode ser até que não saiba o significado, mas com certeza já esteve em contato com o tema. Isso porque, frutas, legumes e até balas de cupuaçu ou coco têm relação com o conceito. Bioeconomia nada mais é do que gerar renda por meio do que a natureza oferece, buscando sempre sua preservação.

Um exemplo vivo é o caso do empresário Roberto Brito de Mendonça, morador da comunidade Tumbira (AM), que fica na Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro.

Roberto deixou de cortar madeira ilegal para trabalhar com sustentabilidade | Foto: Divulgação

Distante duas horas de barco da capital, Manaus, a principal forma de ganhar dinheiro na região era por meio da extração ilegal de madeira. Tudo mudou após um projeto realizado pela Fundação Amazonas Sustentável (FAS).

"Eu nasci e me criei vendo meu pai tirar madeira, então eu fui ser mais um madeireiro ilegal. Mas tudo mudou depois da criação da reserva. Foi quando eu me tornei empreendedor de turismo", conta Roberto.

Ele é dono da Pousada Garrido, situada na comunidade Tumbira, e hoje tira o seu sustento de atividades turísticas. Para Roberto, a grande felicidade é que a nova forma de gerar renda possibilita a permanência do verde da floresta.

Faixada da Pousada Garrido | Foto: Divulgação/Pousada Garrido

"Isso foi uma mudança radical na nossa comunidade. E agora nós cuidamos da natureza como a nossa casa. Se você vai receber alguém na sua, você vai querer tudo arrumado, certinho. Usamos a mesma lógica para manter a Amazônia", comenta o empreendedor sustentável.

Como a bioeconomia impacta o seu bolso

Até aqui você pode estar pensando que a história do Roberto é bem bonita, mas talvez não veja uma relação direta com seu dia a dia. A verdade? A bioeconomia impacta até mesmo no seu bolso.

Mais de 60% do Brasil é formado pela Amazônia, nosso maior bioma e também a maior floresta tropical do mundo. O que mudaria se passássemos a explorar seus recursos de maneira sustentável, e não por meio de desmatamentos ilegais e desenfreados?

"Até hoje não temos um plano de desenvolvimento para a Amazônia. A região precisa de uma política de Estado, não de governos. Mas até hoje não existe isso", explica Osíris Messias Araújo da Silva, economista e escritor.

Osíris Silva, economista e escritor | Foto: Brayan Riker

Segundo o especialista, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil "poderia até dobrar" se houvessem soluções localizadas nas diferentes regiões do país e que buscassem explorar o recurso da biodiversidade, com sustentabilidade.

"Por exemplo, a questão da Zona Franca de Manaus. Ela não vai acabar, só ocorrerá de encontrar novos meios para se perpetuar. Não é mais aquele modelo de 1967, quando foi criada. Há muita coisa que o Polo Industrial pode desenvolver, dentre elas, a bioeconomia", sugere ele.

Sustentabilidade é a solução para o desmatamento?

Em 2019, o Brasil bateu novos recordes de queimadas e desmatamento. O mesmo número está sendo repetido e até superado nas medidas de 2020. De acordo com o Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), só neste ano, já houve aumento de 34% no desmatamento, nos últimos 12 meses. Além disso, ainda em maio, uma reportagem do EM TEMPO mostrou quem (e onde) causa o desmatamento.

Diante de um mundo onde a destruição desenfreada da natureza tem sido a notícia, já é possível ver que a economia sustentável passa a ser melhor recebida, em especial por jovens.

"Os jovens das novas gerações estão mais preocupados com o consumo consciente e em viver em um meio ambiente mais equilibrado, devido ao fato de termos acesso à informação com a ajuda da internet e redes sociais. A partir dessa preocupação, hoje falamos de Bioeconomia ou economia sustentável de forma mais ampla, focando na utilização racional dos recursos biológicos, recicláveis e renováveis", explica Leonan Valente, estudante de Engenharia Florestal pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Leonan Valente tem como seu principal meio de transporte a bicicleta, uma alternativa sustentável  Foto: Lucas Silva

Como popularizar a bioeconomia?

O Brasil não tem, ainda hoje, o ensino de economia como uma disciplina obrigatória no plano de estudos das escolas públicas, com raras exceções. Além disso, o país tem 26,5% da população vivendo na pobreza. Nesse contexto, como falar sobre bioeconomia para todos, incluindo os que não possuem instrução base?

Para Leonan, a forma mais didática de popularizar a bioeconomia seria por meio da escola. Ele ressalta que a iniciativa não é futurística ou complicada.

"A bioeconomia é uma realidade e um assunto que afeta a todas as pessoas e o planeta, e os assuntos tratados por ela são simples se forem aplicados levando em consideração a realidade local. É completamente possível falar sobre plantar alimentos, alimentação saudável, de animais, de florestas, de água e de lixo quando se fala em bioeconomia. Cientistas ao redor do mundo têm enfatizado que para alcançar com sucesso o desenvolvimento da bioeconomia, necessitamos de sistemas de políticas integradas e atividades baseadas no engajamento das partes interessadas, como governos, indústrias, empresas e escolas", ressalta o estudante de engenharia florestal.


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