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O presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Foto: Evaristo Sá/AFP (via Getty Images)
Ato tresloucado. Desespero. Sinal de enfraquecimento. Pedido de socorro.
Na análise política corrente, não faltaram lupas para definir a participação de Jair Bolsonaro em uma manifestação em Brasília que, entre outras bandeiras, pedia intervenção militar, instituição de um novo AI-5 e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Esvaziado de sentido, mas repleto de simbolismo, o discurso do presidente em cima de uma caçamba serviu para mostrar que as flechas ainda estão sendo afiadas. E que há confiança na aposta da radicalização.
Desgastado com a exposição pública de inapetência desenhada pelo ex-subordinado Luiz Henrique Mandetta na saída do Ministério da Saúde, Bolsonaro mal limpou os arranhões e declarou guerra ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A criação de inimigos é, desde sempre, o motor da mobilização bolsonarista, nas redes e na rua, mesmo em tempos de quarentena.
Na quinta-feira (16), quando as notícias da demissão de Mandetta ainda ferviam, Bolsonaro mudou de assunto e chamou de “péssima” a conduta de Rodrigo Maia nas tratativas com o governo durante a pandemia.
À CNN Brasil ele insinuou que o deputado tentava vender dificuldade para comprar facilidades. A declaração ficou no ar até que, no domingo, os pontos de ligaram: inflamado pelas ruas, Bolsonaro decretou o fim da “patifaria” e da “velha política”, sem citar nomes.
Enquanto levantava o dedo indicador em direção ao mar de um novo país ilusório, com a outra mão ele afagava a velha velha guarda brasiliense para testar as águas do baixo clero.
Entre a declaração de guerra a Rodrigo Maia e a participação no ato pró-golpe, três líderes do chamado centrão se reuniram com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, no Planalto: Jonathan de Jesus (Republicanos-RR), Arthur Lira (PP-AL) e Wellington Roberto (PL-PB). Juntos, os três partidos possuem 116 dos 501 deputados.
No mesmo fim de semana, Bolsonaro mandou não uma piscadela, mas um carro de som com canções de amor a Roberto Jefferson, cacique do PTB que gravou uma live em defesa do capitão. Pivô do mensalão, esquema pelo qual foi condenado por corrupção, Jefferson acusou Maia de arquitetar um “golpe parlamentarista”. Como se endossasse o flerte, Bolsonaro fez uma live da live do petebista.
Caso seja aninhado ao bolsonarismo, Jefferson poderá dizer que transitou em todos os governos, inclusive na curta lua-de-mel nos primórdios dos anos Lula, desde que integrou a tropa de choque de Fernando Collor de Mello no início dos anos 1990. Com Michel Temer, ele só não emplacou a filha, Cristiane Brasil, no Ministério do Trabalho, porque a ex-futura ministra colecionava condenações na...Justiça do Trabalho.
A aproximação de Bolsonaro com outras raposas não é de hoje, como não é de hoje o desconforto com o protagonismo do Congresso nas grandes decisões, levando seu ministro do Gabinete Institucional, Augusto Heleno, a se queixar em público/privado da situação de refém. Em disputa estava uma fatia gorda do Orçamento em tempos pré-pandemia.
Atualmente, dois filhos do presidente, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro, além de sua ex-mulher, estão filiados ao Republicanos, sigla de Marcelo Crivella onde devem morar de aluguel até o novo partido articulado pelo pai sair do papel.
Por fora, enquanto Bolsonaro ostenta ministros sem filiação partidária nos principais cargos da Esplanada (Mandetta era do DEM e foi “saído”), longe das câmeras a notícia que corre é que o Planalto já oferece cargos para atrair parlamentares e rachar o centrão, formado também por DEM, Solidariedade, PSD, entre outros, e fundamental para a condução de Maia para a presidência da Câmara.
Apesar do desejo de controle, Bolsonaro mostrou até aqui a mais pura incapacidade de articulação, que tem na implosão do PSL o ponto-alto. Na segunda (20), enquanto dizia que não era bem assim que queria dizer quando disse o que disse no ato pró-golpe, ele via caducar sua minirreforma trabalhista.
Não se sabe até onde a participação em um ato em defesa do fechamento do Congresso poderá assustar os possíveis aliados na guerra contra Maia. Mas o desejo de fazer o deputado do DEM sangrar até o começo do ano que vem, quando outro presidente será escolhido, parece clara. A resposta, até aqui, é uma nota de repúdio
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Foto: Evaristo Sá/AFP (via Getty Images)
Ato tresloucado. Desespero. Sinal de enfraquecimento. Pedido de socorro.
Na análise política corrente, não faltaram lupas para definir a participação de Jair Bolsonaro em uma manifestação em Brasília que, entre outras bandeiras, pedia intervenção militar, instituição de um novo AI-5 e o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal.
Esvaziado de sentido, mas repleto de simbolismo, o discurso do presidente em cima de uma caçamba serviu para mostrar que as flechas ainda estão sendo afiadas. E que há confiança na aposta da radicalização.
Desgastado com a exposição pública de inapetência desenhada pelo ex-subordinado Luiz Henrique Mandetta na saída do Ministério da Saúde, Bolsonaro mal limpou os arranhões e declarou guerra ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A criação de inimigos é, desde sempre, o motor da mobilização bolsonarista, nas redes e na rua, mesmo em tempos de quarentena.
Na quinta-feira (16), quando as notícias da demissão de Mandetta ainda ferviam, Bolsonaro mudou de assunto e chamou de “péssima” a conduta de Rodrigo Maia nas tratativas com o governo durante a pandemia.
À CNN Brasil ele insinuou que o deputado tentava vender dificuldade para comprar facilidades. A declaração ficou no ar até que, no domingo, os pontos de ligaram: inflamado pelas ruas, Bolsonaro decretou o fim da “patifaria” e da “velha política”, sem citar nomes.
Enquanto levantava o dedo indicador em direção ao mar de um novo país ilusório, com a outra mão ele afagava a velha velha guarda brasiliense para testar as águas do baixo clero.
Entre a declaração de guerra a Rodrigo Maia e a participação no ato pró-golpe, três líderes do chamado centrão se reuniram com o ministro da Casa Civil, Walter Braga Netto, no Planalto: Jonathan de Jesus (Republicanos-RR), Arthur Lira (PP-AL) e Wellington Roberto (PL-PB). Juntos, os três partidos possuem 116 dos 501 deputados.
No mesmo fim de semana, Bolsonaro mandou não uma piscadela, mas um carro de som com canções de amor a Roberto Jefferson, cacique do PTB que gravou uma live em defesa do capitão. Pivô do mensalão, esquema pelo qual foi condenado por corrupção, Jefferson acusou Maia de arquitetar um “golpe parlamentarista”. Como se endossasse o flerte, Bolsonaro fez uma live da live do petebista.
Caso seja aninhado ao bolsonarismo, Jefferson poderá dizer que transitou em todos os governos, inclusive na curta lua-de-mel nos primórdios dos anos Lula, desde que integrou a tropa de choque de Fernando Collor de Mello no início dos anos 1990. Com Michel Temer, ele só não emplacou a filha, Cristiane Brasil, no Ministério do Trabalho, porque a ex-futura ministra colecionava condenações na...Justiça do Trabalho.
A aproximação de Bolsonaro com outras raposas não é de hoje, como não é de hoje o desconforto com o protagonismo do Congresso nas grandes decisões, levando seu ministro do Gabinete Institucional, Augusto Heleno, a se queixar em público/privado da situação de refém. Em disputa estava uma fatia gorda do Orçamento em tempos pré-pandemia.
Atualmente, dois filhos do presidente, o vereador Carlos e o senador Flávio Bolsonaro, além de sua ex-mulher, estão filiados ao Republicanos, sigla de Marcelo Crivella onde devem morar de aluguel até o novo partido articulado pelo pai sair do papel.
Por fora, enquanto Bolsonaro ostenta ministros sem filiação partidária nos principais cargos da Esplanada (Mandetta era do DEM e foi “saído”), longe das câmeras a notícia que corre é que o Planalto já oferece cargos para atrair parlamentares e rachar o centrão, formado também por DEM, Solidariedade, PSD, entre outros, e fundamental para a condução de Maia para a presidência da Câmara.
Apesar do desejo de controle, Bolsonaro mostrou até aqui a mais pura incapacidade de articulação, que tem na implosão do PSL o ponto-alto. Na segunda (20), enquanto dizia que não era bem assim que queria dizer quando disse o que disse no ato pró-golpe, ele via caducar sua minirreforma trabalhista.
Não se sabe até onde a participação em um ato em defesa do fechamento do Congresso poderá assustar os possíveis aliados na guerra contra Maia. Mas o desejo de fazer o deputado do DEM sangrar até o começo do ano que vem, quando outro presidente será escolhido, parece clara. A resposta, até aqui, é uma nota de repúdio
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