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Comunitários denunciam Açaí Amazonas por uso excessivo de agrotóxicos

Comunitários de Alenquer denunciam suposto uso excessivo de agrotóxicos por parte da empresa Açaí Amazonas.

 A informação é do oimpacto.com.br

Moradores de comunidades ribeirinhas de Alenquer denunciam o uso excessivo de agrotóxicos, além dos impactos socioambientais do veneno gerados pela atuação da empresa Açaí Amazonas, de propriedade do Grupo Vaccaro. Os comunitários afirmam haver registro de pessoas intoxicadas e até mesmo morte de pessoas por conta do contato – ainda que involuntário – com produtos químicos utilizados pela empresa.

O grupo Vaccaro é um conglomerado de indústrias dos ramos do agronegócio, materiais de construção e logística da região Sul do Brasil. No oeste paraense, a empresa Açaí Amazonas atua desde o início dos anos 2000 e se auto-intitula como “a mais moderna e sustentável produtora de açaí do mundo”.

De acordo com moradores da comunidade, agrotóxicos utilizados pela empresa durante a produção de açaí foram despejados em lagos próximos à comunidade. O agricultor e pescador Antônio Júlio Souza Sena suspeita que seu filho mais novo, Rolian da Costa Sena, faleceu por conta do contato que teve com a água de um igarapé – supostamente contaminado por agrotóxicos despejados pela empresa Açaí Amazonas.

“Eu moro próximo à Açaí, tivemos uma mudança pra essa localidade, onde teve uma ocupação. E aí chegamos pra lá. Aí próximo à fazenda Açaí [Amazonas] tínhamos contato com um igarapé. Mas a gente não sabia se esse igarapé tinha acesso de veneno [agrotóxico]. Isso foi questão de um mês, a gente estava lá. E aí meu filho apresentou uma febre alta, dor de cabeça, muito forte. E a gente utiliza aquela água. Não só ele, mas todo mundo que estava ali, situado naquele lugar, utilizava aquela água. Quando alguém foi falar pra gente que aquela água era contaminada por veneno, a gente já tinha utilizado a água. Ele (o filho) apresentou essa febre alta, essa dor de cabeça muito forte no meu menino. Rapidamente eu corri, e trouxe para o hospital aqui em Alenquer. Foi atendido, aí o médico, despachou a gente para Santarém. Chegamos lá, e fomos atendidos por um médico. Quando chegou em Santarém, ele não falava mais. Ele começou a perder sangue desde aqui. Primeiro morreu o filho da minha vizinha. Porque justamente ele tinha contato bastante junto com meu menino no igarapé. Tomavam banho. Eles conviviam lá. Porque sabe como é que é, o igarapé é uma coisa divertida. Eles viviam lá. Então rapidamente adoeceu, foi questão de oito dias. Aí o segundo médico disse assim ó: ‘infelizmente o que consta, nos exames aqui, é que seu filho está acabando de paralisar o rim, e o que está faltando só é paralisar o coração. E na realidade, o problema do seu filho, é um problema de intoxicação’”, relata Antônio Júlio Souza Sena.

De acordo com o agricultor, depois da morte do seu filho, as pessoas que utilizavam o igarapé também começaram a sentir problemas de saúde, sendo alguns até mesmo internados. No atestado de óbito de Rolian, consta, entre outras causas: choque hemorrágico, coagulação intravascular disseminada, insuficiência renal aguda, insuficiência hepática. Não há menções sobre o que teria levado o garoto a desenvolver este grave quadro clínico.

Os resultados finais dos exames sobre as causas da morte de Rolian da Costa Sena nunca chegaram. Segundo o pai da criança, no mesmo período que o seu filho morreu, a prefeitura de Alenquer pegou 120 mosquitos transmissores da Febre Amarela. No entanto, mesmo assumindo que a criança não possuía vacina contra a doença, ele ainda acredita que o filho morreu por conta da intoxicação com agrotóxicos.

“Tinha um monte de criança sem vacina, e morreram logo os dois que nadaram no igarapé no dia que jogaram veneno”, afirma.

De acordo com outro comunitário que também mora à beira dos córregos d’água próximos à Fazenda Macupixi, pertencente à Açaí Amazonas, as mortes das duas crianças e os casos de problemas de saúde foram sim por conta dos agrotóxicos utilizados pela empresa Açaí Amazonas. Com medo de possíveis represálias, ele preferiu ter o nome não identificado. “No momento das mortes, que acusam de veneno… não têm dúvidas que não seja isso. O rapaz que dirigia o trator que joga o agrotóxico dentro do açaizal estava jogando por onde passa o igarapé. Quando ele terminou, ele veio, e avisou a irmã dele, que morava próxima do igarapé, também na ocupação, e disse: ‘olha, não deixa teus filhos irem pro igarapé que nós jogamos um veneno muito perigoso ali pra cima, e vai descer no Igarapé’. Foi por isso nós ficamos sabendo”, afirma. Antônio e Edineuza afirmam o desejo de exumar o corpo do filho para saber a real causa de sua morte. Este é um anseio compartilhado por grande parte dos comunitários que vivem ao redor da fazenda da Açaí Amazonas.

POSICIONAMENTO DAS AUTORIDADES: Procurado pela agência Amazônia Real, o Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) informou, por meio da assessoria de imprensa, que o promotor de Justiça de Alenquer, Diego Libardi, acompanha as denúncias da população da comunidade de Mediã referentes ao uso de agrotóxico pela empresa Açaí Amazonas e as morte das crianças, porém irá se pronunciar somente após o término das investigações, que correm em sigilo.

O Ministério Público Federal no Pará disse à Amazônia Real, por meio da assessoria de imprensa, que não existe investigação ou ação que cite a empresa Açaí Amazonas ou os empresários Márcio Vaccaro e Eloy Luiz Vaccaro em crimes relacionados ao uso irregular de agrotóxico, pesticida ou defensivo na comunidade Midiã, em Alenquer, no oeste do Pará.

No entanto, o MPF informou à reportagem que há no órgão ao menos cinco processos que citam esses empresários e a empresa em danos ambientais.

A Prefeitura de Alenquer foi procurada, mas também não se pronunciou sobre as denúncias dos moradores da comunidade Mediã.

POSICIONAMENTO AÇAÍ AMAZONAS: A direção da empresa Açaí Amazonas foi procurada para devidos esclarecimentos, mas até não houve respostas. Uma funcionária da Açaí Amazonas, que não quis se identificar, disse apenas que a empresa utiliza métodos “um pouco mais modernos” para a produção de açaí. A empresa também não comenta os processos em que é acusada por danos ambientais e que tramitam na Justiça Federal do Pará.

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