‘O novo presidente do Brasil e 'ruralistas' ameaçam o meio ambiente da Amazônia’, assinado por Lucas Ferrante e Philip Fearnside, do Inpa, foi publicado pela prestigiada Universidade de Cambridge, do Reino Unido
(Foto: Antônio Lima)
Por Cley Medeiros /Acritica
Publicado nessa quarta-feira (24) pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, o estudo ‘O novo presidente do Brasil e 'ruralistas' ameaçam o meio ambiente da Amazônia’ (Brazil’s new president and ‘ruralists’ threaten Amazonia’s environment), revela que o atual governo brasileiro está ‘desmontando a política ambiental’, e que método adotado pode afetar diretamente ecossistemas e os povos indígenas, além de gerar graves consequências sobre o clima no planeta.
O estudo realizado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante e Philip Fearnside, aponta que os indicadores de preservação, responsáveis por garantir transparência de dados sobre o desmatamento na Amazônia, estão comprometidos por conta do avanço de ‘ruralistas’ em cargos de comando no Ministério do Meio Ambiente.
Em passagem por Manaus nesta quinta-feira (25), o presidente questionou os dados sobre desmatamento na Amazônia publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em junho deste ano, que sinaliza aumento de 88% no índice de áreas desmatadas na Amazônia, em comparação com o mesmo período do ano passado. É um dos maiores índices registrados desde que o Instituto começou a produzir relatório, em 1988.
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Sob comando dos ruralistas
Durante a campanha eleitoral em outubro passado, Bolsonaro sugeriu a extinção do ministério do Meio Ambiente, que passaria a fazer parte do ministério da Agricultura. Apesar de não concluída a transferência, Bolsonaro fez algo grave, na opinião de Lucas Ferrante, ecólogo do Inpa e um dos que assinam o estudo publicado pela Universidade de Cambridge. “Nos três primeiros meses da gestão Bolsonaro, cerca de 95% do desmatamento registrado foi feito de maneira ilegal, o que demonstra que apesar de não ter sido entregue ao Ministério da Agricultura, a legislação ambiental passou a ignorar a responsabilidade de fiscalizar, e chegou, inclusive, a sugerir que houvesse ‘perdão’ das multas para quem desmata”, destacou o Ferrante.
“Além de avisar onde acontecerão as fiscalizações sobre desmatamento, o que basicamente leva a nenhuma apreensão dos desmatadores, uma vez que eles sabem onde serão aplicadas as operações contra o desmatamento ilegal, isso impacta no aumento do número de áreas desmatadas”, argumentou o ecólogo.
'Agenda da morte'
Entre os pontos levantados pelos cientistas está a decisão do Governo Federal de retirar 21 postos do Ibama, dos 27 estados da federação, o que demonstra um ‘desmonte completo do que foi construído desde a constituição de 1988, se tratando de políticas ambientais’, alerta Ferrante, que destaca o atual governo brasileiro líder de uma “agenda da morte”.
“O enfraquecimento dos controles ambientais pode levar uma nova ruptura de barragens de rejeito, como foi possível observar em Mariana e em Brumadinho (MG)”, diz.
A alta na liberação de agrotóxicos pelo governo brasileiro, que desde janeiro deste ano autorizou a entrada de 290 novos ‘defensivos’, segundo dados do Greenpeace, organização ambientalista, é um dos pontos de destaque do estudo realizado.
Os cientistas apontam que a maneira pela qual o governo Federal utiliza a ‘canetada’, por meio de decreto presidencial e portarias, demonstra a ‘fraqueza do atual governo’ nos assuntos ambientais, e possuem pouco ou nenhum embasamento científico. Boa parte dos defensivos aprovados são proibidos na Europa e nos EUA desde 2003, como a atrazina e o glifosato, que pode levar pessoas que os utilizam a desenvolverem câncer e outras doenças graves.
Fundo Amazônia
O Fundo gerido pelo Brasil, Noruega e Alemanha, direcionado a pagar pela manutenção da floresta ‘em pé’, já recebeu mais de R$ 300 milhões desde que foi criado, em meados de 2010. “Além disso ele quer perverter o Fundo Amazônia para indenizar grandes latifundiários”, destaca Ferrante, que completa, “ele quer anistiar desmatadores, ou seja isso, é muito grave, porque o dinheiro do fundo deve ser utilizado para preservar a floresta, não para perdoar quem desmata”.
O estudo destaca a preservação das áreas de floresta que estão sobre proteção de áreas de conservação e territórios indígenas. “Tanto as Unidades de Conservação (UC), quanto terras indígenas demarcadas para povos indígenas, registraram praticamente 0% de desmatamento”.
Em junho, Bolsonaro sinalizou rever as demarcações de áreas ambientais protegidas e sugeriu não haver política de ampliação destas áreas, além de propor diminuição dos repasses ao Fundo Amazônia.
Críticas a ministro
A publicação dos cientistas do Inpa também lança uma crítica contundente à política ambiental liderada por Ricardo Salles. À frente do Ministério do Meio Ambiente, ele que foi condenado em primeira instância, em 2018, por ter adulterado mapas de zoneamento e a minuta de decreto do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental Várzea do rio Tietê (APAVRT), durante sua gestão à frente da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). A ação realizada por Salles favoreceu empresários do setor de mineração, vinculados à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
O ministro chegou a negar os efeitos do aquecimento global e reduziu a participação do Brasil em fóruns mundiais que tratam sobre o tema. “O Brasil é o país que mais conserva o meio ambiente, segundo declarações de Bolsonaro, e esse estudo mostra o contrário. A atual gestão fragilizou o processo de proteção ambiental e entregou nas mãos dos ruralistas”.
“A visão negacionista do aquecimento global, a aproximação dos ruralistas e o completo desmantelamento das agências de fiscalização contra o desmatamento, demonstra que nos próximos anos quatro anos o país pode enfrentar sérias dificuldades em conservar a Amazônia”, alerta a publicação.
* Informações foram adcionadas nesta matéria às 10h21, para acrescentar informações em declarações atribuídas ao pesquisador Lucas Ferrante.
(Foto: Antônio Lima)
Por Cley Medeiros /Acritica
Publicado nessa quarta-feira (24) pela Universidade de Cambridge, no Reino Unido, o estudo ‘O novo presidente do Brasil e 'ruralistas' ameaçam o meio ambiente da Amazônia’ (Brazil’s new president and ‘ruralists’ threaten Amazonia’s environment), revela que o atual governo brasileiro está ‘desmontando a política ambiental’, e que método adotado pode afetar diretamente ecossistemas e os povos indígenas, além de gerar graves consequências sobre o clima no planeta.
O estudo realizado pelos pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Lucas Ferrante e Philip Fearnside, aponta que os indicadores de preservação, responsáveis por garantir transparência de dados sobre o desmatamento na Amazônia, estão comprometidos por conta do avanço de ‘ruralistas’ em cargos de comando no Ministério do Meio Ambiente.
Em passagem por Manaus nesta quinta-feira (25), o presidente questionou os dados sobre desmatamento na Amazônia publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), em junho deste ano, que sinaliza aumento de 88% no índice de áreas desmatadas na Amazônia, em comparação com o mesmo período do ano passado. É um dos maiores índices registrados desde que o Instituto começou a produzir relatório, em 1988.
CLIQUE AQUI E CONFIRA A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO
Sob comando dos ruralistas
Durante a campanha eleitoral em outubro passado, Bolsonaro sugeriu a extinção do ministério do Meio Ambiente, que passaria a fazer parte do ministério da Agricultura. Apesar de não concluída a transferência, Bolsonaro fez algo grave, na opinião de Lucas Ferrante, ecólogo do Inpa e um dos que assinam o estudo publicado pela Universidade de Cambridge. “Nos três primeiros meses da gestão Bolsonaro, cerca de 95% do desmatamento registrado foi feito de maneira ilegal, o que demonstra que apesar de não ter sido entregue ao Ministério da Agricultura, a legislação ambiental passou a ignorar a responsabilidade de fiscalizar, e chegou, inclusive, a sugerir que houvesse ‘perdão’ das multas para quem desmata”, destacou o Ferrante.
“Além de avisar onde acontecerão as fiscalizações sobre desmatamento, o que basicamente leva a nenhuma apreensão dos desmatadores, uma vez que eles sabem onde serão aplicadas as operações contra o desmatamento ilegal, isso impacta no aumento do número de áreas desmatadas”, argumentou o ecólogo.
'Agenda da morte'
Entre os pontos levantados pelos cientistas está a decisão do Governo Federal de retirar 21 postos do Ibama, dos 27 estados da federação, o que demonstra um ‘desmonte completo do que foi construído desde a constituição de 1988, se tratando de políticas ambientais’, alerta Ferrante, que destaca o atual governo brasileiro líder de uma “agenda da morte”.
“O enfraquecimento dos controles ambientais pode levar uma nova ruptura de barragens de rejeito, como foi possível observar em Mariana e em Brumadinho (MG)”, diz.
A alta na liberação de agrotóxicos pelo governo brasileiro, que desde janeiro deste ano autorizou a entrada de 290 novos ‘defensivos’, segundo dados do Greenpeace, organização ambientalista, é um dos pontos de destaque do estudo realizado.
Os cientistas apontam que a maneira pela qual o governo Federal utiliza a ‘canetada’, por meio de decreto presidencial e portarias, demonstra a ‘fraqueza do atual governo’ nos assuntos ambientais, e possuem pouco ou nenhum embasamento científico. Boa parte dos defensivos aprovados são proibidos na Europa e nos EUA desde 2003, como a atrazina e o glifosato, que pode levar pessoas que os utilizam a desenvolverem câncer e outras doenças graves.
Fundo Amazônia
O Fundo gerido pelo Brasil, Noruega e Alemanha, direcionado a pagar pela manutenção da floresta ‘em pé’, já recebeu mais de R$ 300 milhões desde que foi criado, em meados de 2010. “Além disso ele quer perverter o Fundo Amazônia para indenizar grandes latifundiários”, destaca Ferrante, que completa, “ele quer anistiar desmatadores, ou seja isso, é muito grave, porque o dinheiro do fundo deve ser utilizado para preservar a floresta, não para perdoar quem desmata”.
O estudo destaca a preservação das áreas de floresta que estão sobre proteção de áreas de conservação e territórios indígenas. “Tanto as Unidades de Conservação (UC), quanto terras indígenas demarcadas para povos indígenas, registraram praticamente 0% de desmatamento”.
Em junho, Bolsonaro sinalizou rever as demarcações de áreas ambientais protegidas e sugeriu não haver política de ampliação destas áreas, além de propor diminuição dos repasses ao Fundo Amazônia.
Críticas a ministro
A publicação dos cientistas do Inpa também lança uma crítica contundente à política ambiental liderada por Ricardo Salles. À frente do Ministério do Meio Ambiente, ele que foi condenado em primeira instância, em 2018, por ter adulterado mapas de zoneamento e a minuta de decreto do plano de manejo da Área de Proteção Ambiental Várzea do rio Tietê (APAVRT), durante sua gestão à frente da Secretaria Estadual de Meio Ambiente de São Paulo, na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB). A ação realizada por Salles favoreceu empresários do setor de mineração, vinculados à Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp).
O ministro chegou a negar os efeitos do aquecimento global e reduziu a participação do Brasil em fóruns mundiais que tratam sobre o tema. “O Brasil é o país que mais conserva o meio ambiente, segundo declarações de Bolsonaro, e esse estudo mostra o contrário. A atual gestão fragilizou o processo de proteção ambiental e entregou nas mãos dos ruralistas”.
“A visão negacionista do aquecimento global, a aproximação dos ruralistas e o completo desmantelamento das agências de fiscalização contra o desmatamento, demonstra que nos próximos anos quatro anos o país pode enfrentar sérias dificuldades em conservar a Amazônia”, alerta a publicação.
* Informações foram adcionadas nesta matéria às 10h21, para acrescentar informações em declarações atribuídas ao pesquisador Lucas Ferrante.
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