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‘Ele queria que subissem em mim para o neném sair’, diz agredida em parto

 Após a agressão, a vítima disse à reportagem que a sogra chegou a procurar as enfermeiras da Maternidade Balbina Mestrinho para denunciarem o caso de violência obstétrica cometido pelo médico Armando Andrade Araújo, mas se negaram a relatar o ocorrido 20/02/2019 às 20:48 -
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Adolescente agredida em parto prestou depoimento hoje na Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM). Foto: Antonio Lima

 

Vitor Gavirati Manaus (AM)


“Eu lembro mais da hora em que ele me bateu, que foi que eu fiquei mais triste. Foi porque... eu não sei. Eu não sei nem o que eu tô sentindo”. A declaração é da adolescente de 16 anos, que aparece no vídeo que viralizou nas redes sociais, sendo agredida por um médico durante parto na Maternidade Balbina Mestrinho, na Zona Sul de Manaus.

As imagens começaram a circular na internet nessa terça-feira (19), dia em que o bebê nascido no parto em questão completou nove meses de vida. A jovem mãe compareceu à Delegacia Especializada em Crimes Contra a Mulher (DECCM) para denunciar o caso nesta quarta-feira (20).

Por que a demora em denunciar? “Porque eu não tinha o vídeo. A mulher que gravou não quis enviar, por medo, eu acho. Aí quando foi a criança e a mãe que morreu (caso ocorrido no último final de semana), ela colocou o vídeo na internet e eu nem sabia. A minha mãe que ligou de Parintins com as minhas irmãs falando que o vídeo tava na internet e que era eu”, explicou a menina à imprensa após o depoimento.

No vídeo, o médico Armando Andrade Araújo aparece batendo com as duas mãos nas virilhas da paciente em trabalho de parto, após a sogra da vítima afirmar que denunciaria as condições de atendimento médico da maternidade à imprensa.


“Eu tava com muita dor, tava quase desacordada e ele tava ali, tentando tirar o bebê a força. Ele ficou com raiva e me bateu. Ele tava muito violento, ele forçava a minha perna, ele batia na minha perna pra ele botar lá onde apoia, porque eu tava com muita dor”, contou a adolescente.

A denúncia desta quarta-feira é a sexta do tipo registrada contra o médico desde 2013. Armando também já foi preso em 2015, acusado de integrar uma quadrilha especializada em cobrar dinheiro para fazer partos, laqueadura e outros procedimentos ginecológicos em maternidades públicas de Manaus.

“Ele queria que as enfermeiras subissem em cima de mim para o neném sair. Ele pedia pra enfermeira segurar a minha perna pra eu não me mexer e a outra médica subir na minha barriga para o neném sair”, lembrou.

O dia do parto

A adolescente agredida por Armando chegou na Maternidade Balbina Mestrinho às 7h do dia 18 de maio. “Eu nem conhecia ele (o médico). Nunca tinha visto ele na minha vida. Passei o dia fazendo exercícios. Não podia comer nada, fiquei com dois copos de suco e na madrugada do dia 19 passei por isso”, contou.


Após a agressão de Armando, outro médico assumiu o parto. “Eu pensei uma coisa totalmente diferente. Pensei que eu ia chegar lá com nove centímetros de dilatação, a bolsa iria estourar, o neném iria nascer normal, tudo bem. Não esperava que iria ser isso e que ia acontecer tudo isso que tá acontecendo”, lamentou a menina, lembrando que o parto durou cerca de três horas e meia.

Enfermeiras não quiseram testemunhar

Ainda em maio do ano passado, logo após a agressão no parto, a sogra da vítima procurou as enfermeiras da Maternidade Balbina Mestrinho para denunciarem o caso. “Elas falaram que não, que não iam fazer, porque elas trabalhavam lá e ele era acostumado a fazer isso. Era normal aquela situação para eles lá dentro”, afirmou a jovem.

A delegada Débora Mafra, titular da DECCM, contou que a adolescente se emocionou muito durante o depoimento. “Ela chorou demais hoje ao narrar tudo que ela passou ali naquela maternidade. O que era para ser um momento bonito, o nascimento de seu filho, ela tem traumas e traumas profundos”, comentou.


A partir do depoimento da jovem, Armando vai responder criminalmente por injúria e vias de fato (cometidas no parto), além de coação no curso do processo judicial
– adolescente acusa secretária de médico de tentar coagi-la. Ele deve ser ouvido até a próxima semana. As enfermeiras que participaram do parto também podem responder criminalmente pelo caso.

A legislação brasileira não prevê como crime específico os casos de violência obstétrica, que são os atos física e psicologicamente violentos praticados no momento da gestação, parto e pós-parto. A adolescente foi ouvida pela Delegacia da Mulher exclusivamente porque afirmou à Polícia Civil que gostaria de ser ouvida pela delegada da área. O caso, no entanto, pode ser encaminhado ao 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP).

Primeiro e último filho

Questionada sobre como está o filho hoje, a adolescente foi direta: “Está ótimo”. Agora, ela disse que vai entrar com um processo judicial contra o médico que a agrediu. “Agora com o vídeo dá pra provar. Espero que a justiça seja feita, que isso não aconteça com outras mulheres e outras mães. Ele é muito violento, ele é um monstro”, comentou a garota.

Durante conversa com a imprensa, a delegada Débora Mafra comentou que um momento como o parto, que deveria ser belo pelo nascimento de um filho, havia se transformado em algo traumatizante para a jovem. Traumas refletidos na fala da adolescente. “Ele é meu primeiro e último filho porque eu não quero mais não. Depois disso, não quero outro não”.

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