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Ex-relator na Comissão de Ética diz que recebeu oferta de propina

Destituído da relatoria do processo de cassação de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) após manobra patrocinada pelo presidente da Câmara, o deputado federal Fausto Pinato (PRB-SP) afirmou, em entrevista à Folha, ter recebido, em três oportunidades, oferta de propina relacionada ao seu parecer.

Pedro Ladeira/Folhapress 


Fausto Pinato (PRB-SP), que foi destituído da relatoria do caso Cunha no Conselho de Ética

Desde que foi escolhido como relator, Pinato já indicava que iria dar um parecer favorável à continuidade do processo de Cunha.

O parlamentar disse não conhecer as pessoas que fizeram a oferta.

O deputado voltou a dizer que recebeu, de deputados aliados de Cunha, conselhos para tomar cuidado com a confecção de seu relatório. Ele não cita nomes, porém.


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Folha - Quando o sr. assumiu a relatoria, foi procurado por emissários do presidente da Câmara, Eduardo Cunha?
Fausto Pinato - No começo foi assim: 'olha, isso é uma bucha, cuidado'. Normal.

Depois começaram aconselhamentos: 'Veja bem o que você vai fazer... o Cunha é um deputado influente, com vários deputados, domina praticamente todas as comissões da Casa'. Mas até aí tudo bem, faz parte né? Tomei a cautela de não omitir nenhum tipo de opinião de mérito.

Fui tirado da relatoria porque eu sou uma pessoa que estava fazendo um trabalho sério e independente.

O sr. encarou esses aconselhamentos como ameaça?
Então, por exemplo, eu fui abordado em aeroporto...

Por parlamentar?
Não, pessoas estranhas. Eu não sei nem quem era. 'Você que é o Pinato? Olha, pensa bem, pode mudar sua vida [faz sinal de dinheiro com as mãos]'. E eu recebi também uns dois telefonemas. 'Pensa bem na tua família'. Eu sou um cara de cidade pequena de 70 mil habitantes acostumado a falar só em rádio AM.

Ofereceram dar ajuda para sua próxima campanha?
Diretamente, não. Mas por telefone e pessoalmente no aeroporto, eu cheguei a ter propostas, sim: 'Você não quer pensar na tua vida? Pensar em você?'. Mas eu não sei se era para arquivar ou para condenar. Eu já cortava e saía.

Mas o senhor sabia de onde partia essas ofertas?
Não. No telefonema falaram para pensar na família e salvo engano umas duas vezes no aeroporto.

Proposta insinuando vantagem?
'Pensa bem, você pode arrumar tua vida, tal' [faz sinal de dinheiro com as mãos]. Umas coisas nesse sentido. Mas como eu cortava. Sempre tentei me esquivar.

Os parlamentares não chegaram a lhe oferecer dinheiro?
Não, não falaram nada. Era 'pensa bem, vê o que vai fazer'. Não chegaram a ser tão incisivos, até porque alguns são até meus amigos, tinha relacionamento pessoal de sair com eles.

Eu era cercado de amigos [dentro da Câmara dos Deputados] e me tornei o cara mais solitário do mundo.

Mas tem um pessoal aqui que tem uma coerência, que tem uma hombridade, não tem como generalizar.

O senhor ouviu rumores de oferta de dinheiro para deputados votarem contra seu relatório?
Ouvi falar isso um monte, rádio corredor fala sempre. Tanto é que está uma discussão muito acirrada, né? Não querer nem deixar abrir o processo?

Mas o sr. testemunhou essas supostas ofertas?
Como eu virei relator e a pressão era muito forte, o que eu fiz? Eu não conversei com ninguém do Conselho [de Ética]. Eu vou fazer o que é certo e a minha parte dentro da minha consciência.

O que os aliados de Eduardo Cunha conversaram com o senhor? Eles faziam parte desse pessoal que fazia o aconselhamento?
Também, né? Porque aqui, a verdade é a seguinte: um ou outro você sabe [de que lado está], mas existe um exército camuflado. Imagine um cara igual a eu, que é de primeiro mandato, chega, não sabe se tá lá ou cá.

Houve ameaça?
Não, só aconselhamento. 'Vai devagar, pensa bem, não é tudo que a mídia fala que é verdade, tem que tomar cuidado, tem que pensar aqui dentro da Casa'.

Tomar cuidado com o quê?
Pra não se queimar, e tal. Aconselhamento, entendeu?

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