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Santarém a Hollywood paraense.

Adriano Barroso fala sobre o filme “Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios”


“Estamos produzindo mais”Desde junho, o ator paraense Adriano Barroso mudou-se para Santarém para fazer parte do “Eu Receberia as Piores Notícias dos seus Lindos Lábios”, novo longa do diretor Beto Brant. O filme de nome pomposo é baseado na obra do escritor Marçal Aquino e conta a história do fotógrafo Cauby, que se aventura na floresta amazônica em busca de material para um projeto: um livro composto por fotos de mulheres dos garimpos.

Adriano vem se desdobrando para cumprir o papel de ator e produtor de elenco do filme, que começa a ser rodado já no próximo mês. Em entrevista para o CADERNO VOCÊ, Adriano conversa um pouco a respeito do filme, carreira e por que Santarém está se tornando a “Hollywood paraense”.

P: Sobre o que é o filme e qual é o seu papel?

R: É basicamente uma história de amor. O filme conta a história do fotógrafo Cauby, interpretado pelo Gustavo Machado, que vem pra Amazônia com a intenção de fazer retratos de mulheres da região. Chegando aqui, ele conhece a Lapinha, vivida pela Camila Pitanga, e os dois se apaixonam. Mas no meio da história acontece um crime. É ai que entra meu personagem, o Polovvi, um investigador da polícia civil que vai tomar conta do caso.

P: Isso não parece muito romântico...

R: Bom, isso é só uma das subtramas do enredo. A história é contada com um tom policial, mas no fundo é um romance.

P: E como surgiu o convite para fazer parte do filme?

R: Foi mais ou menos em abril desse ano. Mas eu já estava mantendo contato com o Beto (Brant) antes disso. Há dois anos ele tem viajado direto para cá para o Pará, como parte da pré-produção do filme. Em 2008, em uma das primeiras viagens dele para Belém para tratar deste projeto, o Beto ficou sabendo do meu trabalho como ator por causa da adaptação da peça “Macbeth”, da qual eu fiz parte. Mas a boa surpresa só veio esses tempos, quando ele, além de me convidar para fazer um papel, me chamou para cuidar da produção de elenco do filme.

P: Está dando para conciliar as duas funções?

R: Por enquanto estamos ainda no período de pré-produção. As filmagens só começam no dia 4 de agosto e seguem até o dia 15 de setembro. Durante as gravações eu vou contar com ajuda de outras pessoas que fazem parte do meu departamento. Mesmo porque produção de elenco é uma função que exige muito. Sou responsável por todo o elenco de atores, e isso incluiu entrevistas, viagens, ensaios. É um desafio enorme,. Para se ter uma ideia, só a figuração desse filme irá contar com cerca de 500 pessoas. Mas tanto o trabalho como ator quanto o de produtor estão no mesmo departamento, o raciocínio não precisa mudar.

P: Acumular funções, inclusive, é uma constante em sua carreira. Você já fez de tudo: trabalhou como ator, dirigiu filmes, escreveu peças e publicou livros...

R: É verdade. Mas esse lance de “faz tudo” soa até pejorativo, porque parece que o cara não se dedica a nada. Na verdade, as coisas estão interligadas. Minha vontade sempre foi escrever para teatro, mas como não tinha escola de dramaturgia na minha época, eu tive que ir para o palco. Como ator, eu vivenciei a experiência do teatro e logo passei a dirigir peças. Depois pulei para o cinema, como ator no longa “Lendas Amazônicas”, em 1997, e segui o mesmo caminho de antes. Passei a dirigir, como foi o caso do documentário “Chupa Chupa: A História que veio do Céu”, de 2007, que eu fiz em parceria com o Roger Elarrat, e escrever roteiros, como na série animada “A Turma da Pororoca”, que eu faço em conjunto com o Cássio Tavernard. Eu resolvi ser feliz e trabalhar com o que eu gosto. São 25 anos de carreira. Considero-me um pouco mais maduro agora, mas ainda tenho muito o que aprender. Trabalhar com o Beto Brant, por exemplo, está sendo maravilhoso. Ele tem um método fantástico.

P: No que ele é diferente?

R: O Beto Brant faz um cinema de imersão. Ele te faz mergulhar de cabeça no trabalho. Na questão da formação dos atores para os papéis, ele te faz ensaiar junto para compreender o personagem, sem se prender à fala ou ao script. Outra coisa que me fez ficar ainda mais fã dele foi o compromisso dele de tornar essa história uma história verdadeira, autêntica. Tanto que ele teve a preocupação de usar gente daqui de Santarém, onde estão sendo nossas locações, para compor o elenco. Além de mim, tem outros atores paraenses no elenco secundário, como o Paulo Fonseca, Paulo Santana e Paulo Larrat. Isso é ótimo, porque a maioria das produções rodadas aqui tende a menosprezar os profissionais

P: Qual o motivo de Santarém ter sido escolhida como locação?

R: Parte da história se passa em um garimpo e Santarém, por ter sido uma cidade de garimpo, serviu perfeitamente. Além disso, Santarém é um paraíso. É uma cidade paradisíaca. Tem o lado bom do provincianismo, todo mundo fala com todo mundo. É atencioso. E tem uma logística de praia, rio e mata virgem ao alcance da cidade. Sem contar que Santarém hoje respira cinema. Além da nossa produção, está sendo filmado na cidade o “Tainá 3” e quem deve vir daqui a pouco é o Cao Hamburguer para filmar o novo projeto dele. É praticamente a Hollywood paraense.

P: Você acha então que as produções vieram para ficar?

R: A gente está vivendo uma fase de mudança. O cinema abriu uma janela muito grande para nosso estado. Estamos produzindo mais, nos tornando referência. Só falta agora lapidar o nosso trabalho e entender que a gente tem uma ótima qualidade de atores, de historias pra contar. O que não se pode perder é a humildade. Sei que parece papo bobo de jogador de futebol. Mas é fundamental.

(Diário do Pará)

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