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O buraco em que nos metemos

Sabe como se tapam buracos nas ruas de Manaus? Simples, mané: abre-se um rombo maior que todos os buracos juntos das ruas de Manaus nos cofres da prefeitura, e estamos conversados. Três meses depois de tapados, no mais tardar, os buracos emergem como um sorriso sem dentes, nos mesmos lugares onde residem e são domiciliados.
Há buracos, muitos, em demasia, que já se tornaram íntimos da nossa privacidade; tão íntimos e inconvenientes, como aquele vizinho – ou conhecido distante – que só nos visita à hora do almoço. “Oi, por coincidência, eu estava ‘só’ passando por aqui e tal...” E como os cidadãos de Manaus são os cidadãos mais bem-educados do planeta Terra e sua periferia metropolitana, põem mais um prato à mesa e arrancam do fundo do armário aquele sorriso de boas-vindas que lhes parece mais sincero para a ocasião.
Água no feijão, minha nega!
Durante a campanha eleitoral que foi decidida ontem, os buracos nem tiveram muita importância; foram “tapados” pela água, uma novidade entre as promessas dos candidatos – estávamos tão acostumados a não ter água nas torneiras quê... Como se diz: o sofrer vicia. Mas foi notável e recorrente a promessa de que “grandes e reconhecidos escritórios de engenharia urbana” serão contratados para descobrir, ou inventar, ou simplesmente utilizar a tecnologia já existente, para a solução do problema do trânsito de Manaus que não anda, e não só por causa os buracos – tudo que deveria se mover em Manaus acaba infectado pela inércia: os ambulantes da Eduardo Ribeiro e entorno, por exemplo, que transformaram a cidade num acampamento de refugiados africanos e logo, logo, reivindicarão o direito adquirido de ser proprietários das calçadas dos que pagam impostos, taxas e tributos, além de propinas, e já não podem sequer sair de casa.
O Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura (Crea) não foi nem mencionado nesses debates tediosos. Nossos engenheiros e arquitetos não saberão ou não terão sabido nunca como construir ruas e avenidas em que não se abram buracos com tão curta periodicidade? Não saberão como e onde rasgar alternativas para essa frota que aumenta, a cada dia, e está ameaçada de não sair da garagem? A prefeitura não tem um quadro de engenheiros e arquitetos? O Crea só servirá para cobrar anuidade dos seus associados e fiscalizar quem tem ou não a carteirinha do clube privado? O Crea calou-se e perdeu o direito de resposta.
A água dominou o debate e o verão de outubro. Faltou ensino fundamental: crianças e jovens aprendem mais com o mau exemplo das nossas autoridades do que nas salas de aula, onde a pedagogia está emperrada. Faltou saúde: os usuários do sistema adoecem mais esperando nas filas do que propriamente das doenças que os afligem. Faltou cultura: eventos passam com o vento. Faltou segurança: chamem o ladrão! Faltou cidade e sobrou seringal.
Se as universidades, os centros de tecnologia, os conselhos e sindicatos classistas e a tal sociedade civil organizada não têm respostas para as demandas da cidade, então que venham os grandes escritórios para nos tirar do buraco em que nos metemos ou em que nos meteram. Eu não felicito o prefeito de Manaus. Eu ‘EXIJO’, eu ‘QUERO’ que a cidade e não grupos de interesses privados tenham suas necessidades atendidas. Não é muito. Não é impossível. Fazer o bem também dá votos.
Artigo do Aldisio Filgueiras do Jornal Em Tempo.

Comentários

  1. ei mané saiu um danado entrou outro, se vira nos trinta manaus.

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