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Quem era a dona da manchete?

Matéria Publicada em 12/06/2008 Carta Capital
“Do jeito que saí da agência, não consigo emprego nem de vendedora na Casas Bahia”, teria dito a amigos Denise Abreu, ex-diretora da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), logo depois de deixar o posto, em julho de 2007. A executiva não escondia a frustração por não ter recebido um novo cargo no governo, após a desastrada passagem pela fiscalização do setor aéreo, no auge do caos nos aeroportos. Sentindo-se traída, decidiu jogar no ventilador a obscura história da venda da Varig. Em depoimento no Senado, na quarta-feira 11, Denise não conseguiu mostrar documentos para alimentar as acusações de ingerência da ministra no episódio. Mas manteve as acusações de que o governo interferiu a favor da operação temerária, conduzida pelo compadre de Lula, o advogado Roberto Teixeira. Segundo Denise Abreu, Dilma Rousseff, em uma reunião, teria dito que ela estaria “extrapolando a lei”. O governo sempre deixou clara a intenção de evitar, a todo custo, que a Varig quebrasse. A ponto de pôr de lado mais de 7 bilhões de reais em dívidas e permitir que um investidor assumisse a parte boa do negócio: os direitos de pousos e decolagens em Congonhas e as rotas internacionais. Quando a esmola é demais, o santo desconfia. E o único disposto a bancar o risco foi o fundo americano Matlin Patterson, associado ao investidor chinês Lap Chan. Para driblar as regras que proíbem a venda de mais de 20% de uma companhia aérea a estrangeiros, Chan convidou três brasileiros para figurar como responsáveis pela compra: Marco Antonio Audi, Luiz Eduardo Gallo e Marcos Michel Haftel. À época, só o sindicato das empresas aéreas (SNEA) questionou a legalidade da manobra. Vale lembrar que, no chão, a Varig seria mais útil às concorrentes do que ao voar “subsidiada” por calotes no Fisco e nos fornecedores, como nos últimos anos. Diante dos recentes desentendimentos entre Chan e os prepostos, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, deu prazo de 30 dias para que a VarigLog encontre novos donos no País. A sistemática foi simples: o fundo emprestou o dinheiro ao trio de brasileiros, que comprou a subsidiária cargueira VarigLog e depois a própria companhia. O desembolso foi de 24 milhões de dólares. Nesse meio-tempo – e aí começa o capítulo menos conhecido do grande público –, o governo buscava um comprador de verdade para a Varig. Os presidentes da TAM, então Marco Bologna, e da Gol, Constantino Junior, participaram de uma reunião sigilosa com a ministra Dilma, que sugeriu a criação de uma joint venture para manter as operações internacionais, e uma divisão entre as rotas domésticas. Os executivos voltaram para as empresas e examinaram relatórios e números da Varig. Segundo os novos donos, a companhia, sem o lado podre, valeria até 1,2 bilhão de dólares. Findas as análises, ambos concluíram que não pagava a pena fazer qualquer lance, juntos ou sozinhos, diante dos riscos de sucessão tributária, dos encargos trabalhistas e também depois do desgaste da imagem da companhia. Entra aí o dedo mágico do advogado Roberto Teixeira. Foi também ele quem assessorou a Gol no lance de 320 milhões de dólares, com o qual arrematou a companhia. O negócio surpreendeu todo o mercado, até porque Constantino Junior havia negado, a interlocutores do setor, o interesse pela Varig. Meses depois, a Varig se revela um peso extra para a até então saudável Gol. Conforme alertaram os especialistas, não havia como conseguir aviões de grande porte em número suficiente para retomar todas as operações internacionais. As poucas rotas mantidas têm baixa ocupação, pois os passageiros migraram para outras empresas. Por que razão Constantino, depois de decolar com tanta habilidade no conturbado mercado de aviação do País, embarcou nesse vôo cego, é a pergunta a ser feita. Talvez Teixeira tenha a resposta.

Comentários

  1. Impressionante como são as pessoas, quando estão comendo, ficam caladas, quando são postos pra fora começam a cuspir no prato que comeu, ou melhor jogam tudo no ventilador

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