Informatica

Meio milhão sem celular

Aristide Furtado
A CRÍTICA

Passados 25 anos do lançamento, no mercado mundial, do primeiro telefone celular, mais de meio milhão de pessoas que vivem em 34 dos 61 municípios do interior do Estado do Amazonas ainda não têm acesso ao serviço de telefonia móvel.

O mapa da situação da telefonia celular nos municípios do Amazonas foi elaborado pela Associação Amazonense dos Municípios (AMM). Além dos municípios desprovidos da cobertura celular, a lista traz o ranking das cidades que possuem de uma a quatro operadoras.

A radiografia feita pela AMM revela que a telefonia celular está ausente principalmente nos municípios com baixa densidade populacional e mais distantes da capital. Sem acesso ao celular, as populações desses locais contam com um sistema deficiente de telefonia fixa, que frequentemente apresenta problemas, principalmente durante o período de fortes chuvas.

Envira é um desses municípios esquecidos pelas grandes e lucrativas empresas de telecomunicações. Seus 16.438 habitantes não aparecem nas estatísticas de clientes de operadoras de aparelho celular. O funcionário público Jocione Santos, representante da Prefeitura de Envira em Manaus, diz que o serviço ajudaria a quebrar o isolamento de sua cidade.

O relato de Jocione Santos sobre a viagem de Envira a Manaus dá a exata dimensão do verdadeiro aparthaid geográfico que caracteriza a vida nesses rincões do continental Estado do Amazonas. O município, a 1.215 Km da capital, tem como único meio de transporte acessível economicamente à maioria da população o barco recreio.

"No período em que o rio está cheio dá para vir de barco para Manaus em cerca de 15 dias de viagem. O barco sai pelo rio Envira. Desce até o rio Juruá. Depois segue pelo Solimões. De Manaus para Envira, leva mais tempo. É subida. Depende das condições de navegação. Tem barco que demora até 20 dias para chegar lá. O recreio regular só vai até Eirunepé. Tem outro barco que faz a conexão", conta Jocione Santos.

No quesito distância e isolamento, Guajará desponta entre os primeiros colocados. Aparelhos da Vivo, Amazonia Celular, TIM e OI, tão comuns em Manaus, Itacoatiara, Parintins, Maués e Presidente Figueiredo, não fazem parte do dia a dia dos 14.102 cidadãos guajarenses, que moram a 1.645 Km de Manaus.

Por outro lado, a história do técnico em contabilidade, Dácio Melo, 28, morador de Atalaia do Norte, no Alto Solimões, mostra o desejo e a necessidade das pessoas do interior do Estado por esse tipo de tecnologia. A 1.138 Km de Manaus, o município não tem cobertura de telefonia móvel. Mesmo assim muitos moradores possuem o aparelho. Dácio é um deles.

Ele comprou um celular porque no município de Benjamin Constant, que fica na tríplice fronteira Brasil, Colômbia e Peru, tem serviço da Vivo e da Amazônia Celular. "Em alguns pontos da cidade pega o sinal da Vivo de Benjamin. A gente procura o lugar mais alto para poder falar. Dá para fazer isso na Praça de Alimentação e na beira do rio na Praça do Caracol", diz.

Comentários