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As Farc podem vir, adverte general

Segundo comandante da Amazônia, guerrilheiros têm entrado no lado brasileiro, mas como cidadãos comuns
José Maria Tomazela

A narcoguerrilha é hoje a principal ameaça à região amazônica brasileira, na opinião do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, chefe do Comando Militar da Amazônia. O Exército acompanha com preocupação as crescentes atividades das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na área fronteiriça. Além de bem treinados e adaptados à selva, os guerrilheiros colombianos têm armas modernas, financiadas pelo narcotráfico.

"Não há uma intenção explícita das Farc de entrar em território brasileiro, mas pode ser que eles venham", afirma o general. A presença desses guerrilheiros no lado brasileiro aumentou, mas eles entram como cidadãos colombianos comuns e o Exército nada pode fazer. "Eles vêm para se abastecer no comércio e muitas vezes a moeda é pasta de cocaína."

Segundo análise feita pelo militar durante visita ao 34º Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá (PA), o território brasileiro é usado para escoar drogas não mais por aviões, suscetíveis de controle pelo Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), mas por via fluvial. "O tráfico mudou a estratégia e passou a usar os rios penetrantes, com barcos e lanchas rápidas. É um transporte mais demorado, mas, depois que se cria um fluxo, a droga chega."

O general diz que a Polícia Federal já constatou que há mais cocaína entrando em Belém pelo Rio Amazonas, de onde vai para o exterior. Já a droga consumida no Brasil entra principalmente pela Bolívia. Além da falta de recursos para ampliar a vigilância nos rios com embarcações mais rápidas, o comandante da Amazônia reclama da ausência de outros órgãos de repressão ao tráfico, como a Polícia Federal. Ele disse que o militar não tem treinamento para reconhecer a cocaína, por exemplo. "Estou pleiteando que nossas escolas de formação de oficiais e sargentos incluam no currículo o reconhecimento de drogas."

Entre as razões que transformam a Amazônia em "hipótese alfa" - alta prioridade - no sistema brasileiro de defesa, o general aponta a tensão que cerca algumas relações bilaterais, como entre a Colômbia e a Venezuela. "Os dois países estão comprando armas", diz.

CONTENCIOSOS

O movimento de emancipação da região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, os contenciosos desse país com o Equador e entre Uruguai e Argentina são outros focos de preocupação. Há ainda uma campanha pela internacionalização da Amazônia, agora focada no desmatamento. Segundo o general, há exagero no que se divulga de desmatamento. "Sou contra isso (o desmatamento), mas a divulgação exagerada leva ao ponto de dizer que não sabemos cuidar."

O ambientalismo radical, segundo o comandante da Amazônia, trava o desenvolvimento. "É discutível não construir estradas, pois é por onde chega o desenvolvimento." E observa que a ausência do Estado agrava os problemas da região. "A extração de madeira precisa ser acompanhada pelo Ibama, mas o Ibama tem mais gente em Brasília do que na Amazônia."

Ele também considera grave, do ponto de vista militar, a transformação de extensas áreas contíguas de fronteira em reservas indígenas. Nessas áreas proliferam organizações não-governamentais (ONG) bancadas pelo capital internacional que agem fora do controle brasileiro. A questão indígena, segundo o general, está sendo dissociada do processo histórico de conquista e colonização do território que levou à miscigenação, um traço marcante da cultura brasileira. "Querem isolar os índios nas terras, mas o índio não quer viver isolado. Ele quer usufruir das benesses da civilização."

Para o general, a cooperação é a tese mais equilibrada: permite que o indígena tenha sua terra para viver, mas também interaja com o não-índio. Ele se considera no direito de "dar palpite", pois essa questão afeta a soberania nacional. "Enquanto eu for comandante, eu entro em todas as terras indígenas, quer queiram ou não."

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