O presente artigo tem propósito analisar o cenário da economia de Santarém, importante município da região Oeste do Estado do Pará, com população de 310.104 habitantes (IBGE, estimativa 2006/2007), que tem sua economia com bases fortes no setor de comércio e serviços (50,37%), devido ser um município que
centraliza a economia regional, ficando os demais setores com 49,63% de toda a produção local, destacando a pecuária e o agronegócio no setor primário, com 32,96% e o setor industrial, com ênfase no setor madeireiro e a indústria de cerâmica avermelha, com 16,67%.
O foco do objetivo principal desta análise está o segmento de transporte coletivo urbano, segmento que em 2000, sob a concessão do poder público municipal, segundo dados do SETRANS (2007) e CMT (2007), era composto por 12 empresas privadas, frota de 123 ônibus, percur-so de 704,1km e um total de 3.470 mil passageiros transportados mensalmente, hoje conta com oito empresas, a frota foi encolhida para 90 ônibus, o percurso aumentou para 915,7km e o número de passageiros, embora a população tenha tido um crescimento 15,67% no período, ou seja, de 268 mil para 310 mil habitantes, caiu 30,4%, se comparado com a média de passageiros transportados mensalmente em 2000 (Tabela 1).
Tabela 1 – Índices do cenário do setor de transporte coletivo urbano de Santarém: 2000-2007
Descrição Unidade 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Extensão do sistema km 704,10 768,36 777,00 815,64 876,25 890,40 900,20 915,70
Frota ônibus 123 123 110 110 110 90 90 90
Total de viagens/mês viagem 100.465 100.004 99.876 90.871 85.458 72.097 71.898 68.562
Quilometragem percorrida/mês km 2.142.918,5 2.201.088,0 2.255.200,1 2.080.037,2 2.009.972,2 1.697.163,4 1.743.526,5 1.561.074,2
Total de pass. transportados/mês pessoas 3.470.289 3.404.482 3.415.136 2.671.874 2.503.421 2.508.760 2.447.422 2.415.266
Passagens c/ tarifa normal pessoas 2.045.987 2.003.980 1.987.634 1.254.879 1.107.845 1.098.758 1.076.512 1.052.456
Tarifa estudante (50%) pessoas 1.098.656 1.045.623 1.025.487 1.028.250 995.451 999.748 945.125 915.484
Idosos, deficientes e serviço pessoas 325.646 354.879 402.015 388.745 400.125 410.254 425.785 447.326
Pessoal empregado pessoas 583 574 567 552 534 521 518 510
Tarifa R$ 0,80 0,85 0,85 1,00 1,00 1,15 1,30 1,30
Índice de passageiro/km rodado (IPK) 1,619 1,547 1,514 1,285 1,246 1,478 1,404 1,547
Ao longo dos sete anos, a inflação brasileira, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) através do Instituto Brasileiro de Geografia, chegou a 68,3% e o preço da passagem, em todo esse período, foi ajustado em 62,5%, ou seja, de R$ 0,80 (oitenta centavos) em janeiro/2000, para R$ 1,30 (um real e trinta centavos), até o presente momento (abril/2007), abaixo do índice de inflação media em todo o período (janeiro/2000 a abril/2007).
Considerando os ajustes contínuos nos preços dos ônibus convencionais que subiram de R$ 60 mil, em 2000, para R$ 193,8 mil, em 2007 e os demais insumos que tiveram seus ajustes majorados em: combustíveis e lubrificantes, 97%; pneus, câmaras e protetores, 115%; recursos humanos, 78% e; outros insumos, 112%, as empresas foram obrigadas a reduzir o número de viagens e com isso, o número de km percorri-dos com o objetivo de reduzir os custos e assim reduzirem os prejuízos acumulados.
Figura 1 – Taxa de ajuste dos preços dos ônibus convencionais no período de 2000-2007 (em %).
Com a implantação do serviço alternativo de moto-taxista, o número de passageiros que pagavam tarifa cheia caiu 48,6%, sufocando ainda mais o setor.
Segundo dados do Departamento Estadual de Trânsito – DETRAN (2007), 14.408 é número total de motocicletas com registro em Santarém. Em levantamento de efetuado pelo CEAMA – Centro Avançado de Estudos Amazônicos (2007), do total de motocicletas registradas no DETRAN em Santarém, 3.544 estão no serviço autônomo de transporte alternativo de passageiros, ou moto-táxi, equivalente a 24,60%; 2.248 são pilotadas por estudantes (15,60%) – Figura 2.
Figura 2 – Perfil dos usuários de motocicletas em Santarém (em %).
Levando em conta os números atuais, é possível entender como aconteceu a redução do numero de viagens mensais dos ônibus que operam no transporte coletivo urbano em Santarém, de 100,5 mil, em 2000, para 68,6 mil, em 2007; do total de passageiros transportados, incluindo os de tarifa normal, estudantes, deficientes com dificuldades de locomoção e seus respectivos acompanhantes e o pessoal em serviço (correi-os, policiais, justiça e outros), de 3,5 milhões, em 2000, para 2,4 milhões, em 2007.
Foi possível também perceber que o número de estudantes transportados no mesmo período caiu de 1,1 milhão, em 2000, para 915 mil, em 2007, portanto, uma redução de 16,7%, isto porque, além do uso do serviço autônomo de transporte alternativo, mais de dois mil estudantes hoje, utilizam motocicletas próprias como meio de transporte, embora a queda tenha sido bem menos acentuada que o número de passageiros transportados com tarifa normal, que atingiu 48,6%, uma transferência da metade dos passageiros para o serviço de transporte alternativo através de motocicletas.
Por outro lado, os idosos, deficientes com dificuldades de locomoção e seus respectivos acompanhantes e o pessoal em serviços, que em 2000 somavam 325,6 mil, em 2007 o número de se elevou para 447,3 mil, um aumento significativo da gratuidade em mais de 37%, cenário que também contribuiu para o agravamento deficitário do setor.
O número de pessoas empregadas no setor que em 2000 era de 583 empregos diretos, em 2007 caiu para 510, queda de 12,5% Os empregos indiretos, nos serviços de lanternagem, pintura, retífica de bombas injetoras, peças e acessórios, combustíveis e lubrificantes e outros, que somavam 2,3 mil, em 2000, em 2007 caiu para 2 mil.
O índice de passageiros por quilômetro rodado que era de 1,619, em 2000, em 2007 caiu para 1,547. Esta queda não foi estatisticamente significativa tendo em vista que os empresários tomaram a decisão de reduzir a frota de 123 para 90 ônibus e o número de viagens de 100,5 mil para 68,6 mil que, por conseguinte alterou o número de quilômetros rodados, mantendo-se uma taxa menos elástica, minorando os resul-tados negativos das oito empresas operadoras do sistema, decisão que se não fosse tomada, transformaria o setor em uma sucata, com veícu-los rodando por mais dez anos, o que colocaria em risco a vida e o bem-estar dos usuários do transporte coletivo urbano de Santarém.
Considerações finais
O estudo da contempla a análise de cenários do segmento de transporte coletivo urbano de Santarém no período de Janeiro/2000 a A-bril/2007, onde se aponta uma redução do número de empresas operadora de 12 para 8, bem como uma redução do número de ônibus con-vencionais de 123 para 90, em que pese à demografia do município ter sido modificada em sua população, elevando-se de 268 mil, em 2000, para 310 mil, em 2007.
Analisou-se também uma redução do número de passageiros transportados de 3,5 milhões, em 2000, para 2,4 milhões, em 2007, queda mais acentuada a partir de 2003, com a implantação e a legalização do serviço de 200 unidades de motos-taxista, pela Prefeitura Municipal de Santarém, mais o incremento de mais de três mil trabalhando na ilegalidade, o que colaborou para a redução do setor em 48,6%.
De outra ordem, as empresas operadoras, para equilibrar seus custos com a nova receita, foram obrigadas a reduzir, além da frota, o número de viagens por linha, de tal forma que resultasse em uma menor quilometragem, e com isso a queda no consumo, tanto de pneus com com-bustíveis e lubrificantes, principais insumos utilizados no transporte público de passageiros.
Tecnicamente, todos os modelos econômicos, estatísticos e matemáticos foram testados a partir dos dados primários e secundários, não deixando dúvidas sobre dados e valores apresentados nesta análise de cenários.
Por fim, considera-se que, a partir da situação problemática estabelecida, suas justificativas e principalmente a seleção dos procedimentos metodológicos, este estudo atingiu os objetivos previamente definidos, respondendo-se às perguntas formuladas na contextualização, de como estariam econômica e financeiramente às empresas que operam no setor de transporte coletivo urbano de Santarém, sem qualquer contratempo ou imprevisto que viesse colocar em cheque os resultados cuidadosamente calculados e efetivamente comprovados.
José de Lima Pereira, M.Sc.
Economista – CORECON 1.842-2 (PA/AP)
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