A Coca-Cola, a Ambev e o mito do IPI dos concentrados
Por Neuton Corrêa, da Redação/BNCDiz a lenda que as grandes multinacionais fabricantes de refrigerantes do Polo Industrial de Manaus viviam num paraíso sem igual até 1994.
Naquele ano, porém, um presidente, Itamar Franco, que chegara ao cargo sem compromissos eleitorais, pois herdara o trono do vaidoso Fernando Collor de Mello, que renunciara ao posto em pleno processo de impeachment no Congresso, mudaria essa história.
Até então a alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), principal alimento das mais respeitadas deusas do setor, Coca-Cola e Ambev, era de 40%.
Franco como era e preocupado com a gula de suas musas queridas, Itamar viu que a gula era demais e que poderia engolir as duas deusas.
Com isso, ameaçou reduzir a renúncia do IPI de 40% para 2%.
Diante daquela ameaça, a bancada do Amazonas, integrante do Congresso que acabara de derrubar um semideus, Collor, rugiu.
O reino de Hades, onde ainda hoje vivem operários de fábricas e plantadores de guaraná e cana de açúcar para xarope, amotinou-se apavorado.
Pressionado de todos os lados, Itamar Franco recuou de seus propósitos. Ao invés de reduzir o incentivo a 2% tirou apenas três pontos percentuais dos 40% vigentes e fixou o imposto em 37%.
Ele, contudo, lançou um vaticínio para as multinacionais:
“Vocês ficarão no paraíso, mas precisarão rastejar para continuar tirando o sustento de que precisam”.
Desde então, reinados pós reinados, o IPI foi se reduzindo até chegar a 27% em 2012, com a primeira rainha a ocupar o trono num lugar dominado pelos deuses homens.
Mas ela queria reduzir ainda mais o alimento do setor. Tentou estabelecer em 17%, mas, outra vez, pressionada do Hades ao Congresso, segurou em 27%.
Ela não conseguiu e eras depois foi engolida pelo Congresso.
Acontece que, assim como no tempo de Franco, entrou um herdeiro do trono sem exposição eleitoral, Michel Temer, que reduziu o tributo de 20% para 4%.
Naquele maio de 2017, Michel estava pressionado por caminheiros que pararam o país e ele precisava encontrar um setor que pudesse pagar os prejuízos causados pelos transportadores.
Temer olhou para aquilo que pudesse estar mais longe de seu olhar e disse: lá em Manaus. E canetou.
Outra vez a ladainha se repetiu.
Agora, o tamanho da comida das deusas dos refrigerantes está sendo definida.
No trono dos deuses agora está o Capitão, que tem um auxiliar chamado também de Posto Ipiranga, que implicou não apenas com a Coca-Cola e com a Ambev, mas com todo o alto do monte chamado Zona Franca de Manaus e não perdeu oportunidade.
Vingou-se do título que ganhou da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALE-AM) de persona non grata.
Poderia ter atendido à grita por mais incentivo, mas atentou ao atentado de deixar os concentrados com sobras de renúncias, conforme fez Michel Temer.
E assim está. E assim começa um novo ciclo que não se sabe onde vai parar nesse antigo paraíso.
Ilustração: Alex Fideles
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