"Desde quanto os militares voltaram a ser oráculo, bedel, revisores
ou palpiteiros-mor das decisões de outros poderes?", questiona Helena
Chagas, do Jornalistas pela Democracia
Por Helena Chagas Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
Por Helena Chagas, em Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia
O Alto Comando do Exército não gostou do voto de Rosa Weber no STF endossando a tese de que a prisão só deve ocorrer após esgotados todos os recursos — e abrindo caminho para o ex-presidente Lula sair da cadeia — informa a Coluna do Estadão.
Não gostaram. E daí? Era para gostar? Desde quanto os militares voltaram a ser oráculo, bedel, revisores ou palpiteiros-mor das decisões de outros poderes?
Não se via isso desde os idos da redemocratização, em meados da década de 80. Depois de uma abertura “lenta e gradual”, veio o governo Sarney, que fez a transição da ditadura para a democracia, e durante o qual a opinião dos militares ainda era considerada decisiva, fundamental para os políticos, para a mídia, para o país. Vivíamos ouvindo os militares. Aos poucos, porém, as Forças Armadas, de forma exemplar, passaram a cuidar de seus assuntos, raramente se imiscuindo na política. Democracia, para quem não se lembra.
Graças a esse processo Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente pelo voto direto, como civil, apesar da condição de capitão reformado. Encheu o governo de militares, no plano simbólico trouxe as Forças Armadas de volta aos holofotes, mas nada mudou do ponto de vista institucional. Apesar de muitos militares ocuparem postos importantes no governo, não se alterou nada no sistema constitucional que prevê que cada macaco tem ficar no seu galho.
É extemporânea e inadequada, portanto, qualquer manifestação militar, ainda que discreta e em off, sobre os rumos de julgamentos do STF e outros temas. Caso dos tuítes do ex-comandante Villas-Boas supostamente contrários a uma possível libertação do ex-presidente Lula.
Mas Villas Boas agora é um assessor do governo, assim como o geral Augusto Heleno, chefe do GSI e outros. Há claramente, no Planalto, às vésperas da saído de Lula da cadeia, a construção de uma narrativa para satanizar as esquerdas, relacionando-as às manifestações que se espalham por países da América Latina. É tudo jogo político, com o objetivo, talvez, de pressionar o próprio STF.
O jogo deu certo algumas vezes, como se vê na lentidão e no medo da Corte Suprema do país diante de certas decisões. O atual presidente do STF, Dias Toffoli, aliás, já teve o hoje ministro da Defesa, Fernando Azevedo, como assessor especial – o que pode ser com ou ruim na ordem geral das coisas.
Afinal, são os militares da ativa que têm as armas e comandam as tropas. Apesar de notinhas aqui e ali, ainda estão formalmente calados. E ajudarão muito ao país e à democracia se assim se mantiverem.
(Conheça e apoie o projeto Jornalistas pela Democracia )
Por Helena Chagas Helena Chagas é jornalista, foi ministra da Secom e integra o Jornalistas pela Democracia
Por Helena Chagas, em Os Divergentes e para o Jornalistas pela Democracia
O Alto Comando do Exército não gostou do voto de Rosa Weber no STF endossando a tese de que a prisão só deve ocorrer após esgotados todos os recursos — e abrindo caminho para o ex-presidente Lula sair da cadeia — informa a Coluna do Estadão.
Não gostaram. E daí? Era para gostar? Desde quanto os militares voltaram a ser oráculo, bedel, revisores ou palpiteiros-mor das decisões de outros poderes?
Não se via isso desde os idos da redemocratização, em meados da década de 80. Depois de uma abertura “lenta e gradual”, veio o governo Sarney, que fez a transição da ditadura para a democracia, e durante o qual a opinião dos militares ainda era considerada decisiva, fundamental para os políticos, para a mídia, para o país. Vivíamos ouvindo os militares. Aos poucos, porém, as Forças Armadas, de forma exemplar, passaram a cuidar de seus assuntos, raramente se imiscuindo na política. Democracia, para quem não se lembra.
Graças a esse processo Jair Bolsonaro foi eleito democraticamente pelo voto direto, como civil, apesar da condição de capitão reformado. Encheu o governo de militares, no plano simbólico trouxe as Forças Armadas de volta aos holofotes, mas nada mudou do ponto de vista institucional. Apesar de muitos militares ocuparem postos importantes no governo, não se alterou nada no sistema constitucional que prevê que cada macaco tem ficar no seu galho.
É extemporânea e inadequada, portanto, qualquer manifestação militar, ainda que discreta e em off, sobre os rumos de julgamentos do STF e outros temas. Caso dos tuítes do ex-comandante Villas-Boas supostamente contrários a uma possível libertação do ex-presidente Lula.
Mas Villas Boas agora é um assessor do governo, assim como o geral Augusto Heleno, chefe do GSI e outros. Há claramente, no Planalto, às vésperas da saído de Lula da cadeia, a construção de uma narrativa para satanizar as esquerdas, relacionando-as às manifestações que se espalham por países da América Latina. É tudo jogo político, com o objetivo, talvez, de pressionar o próprio STF.
O jogo deu certo algumas vezes, como se vê na lentidão e no medo da Corte Suprema do país diante de certas decisões. O atual presidente do STF, Dias Toffoli, aliás, já teve o hoje ministro da Defesa, Fernando Azevedo, como assessor especial – o que pode ser com ou ruim na ordem geral das coisas.
Afinal, são os militares da ativa que têm as armas e comandam as tropas. Apesar de notinhas aqui e ali, ainda estão formalmente calados. E ajudarão muito ao país e à democracia se assim se mantiverem.
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