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'Mãe solidária': feirante conta como foi criar 40 filhos adotivos em Santarém, PA

Marilanze Pinto, de 59 anos, se propôs à adoção após criar e educar os cinco filhos biológicos. Ela trabalha como feirante há 43 anos em Santarém, oeste do estado.

 A reportagem é de Adonias Silva do G1 Santarém.

Feirante Marilanze Melo Pinto, de 59 anos, em sua banca na área do Mercadão 2000 (Foto: Adonias Silva/G1)

Uma mãe do coração que nasceu para servir. A história é de uma mulher de 59 anos que dedicou a vida para cuidar dos filhos de sangue e dos filhos adotivos em Santarém, no Pará. A somatória deste amor e da mais pura forma de solidariedade corresponde a 45 pessoas. A feirante Marilanze Melo Pinto, contou que decidiu optar pela adoção depois da morte de cinco filhos, dos 10 que ela gerou. A viúva resolveu criar cinco filhos no lugar dos que morreram e assim tentar amenizar a dor e o sofrimento da perda.



Dona Marilanze diz que presenciava cenas de crianças que viviam abandonadas nas ruas ou que eram oferecidas pelas mães após o parto. Parte delas relatavam dificuldade financeira para criar os filhos. Outras mães não tiveram a oportunidade de criar seus bebês porque perderam a vida. A maioria dos filhos adotivos vieram de famílias de comunidades do interior do município, ficavam dias na cidade e não retornavam mais para casa. Algumas crianças apresentavam doenças e viviam hospitalizadas.


A partir do desejo de ser mãe e ajudar outras crianças que viviam em situação de risco, dona Marilanze passou a cuidar igualmente de todos, em sua casa, no bairro Laguinho. Contudo, lamentou que muitas vezes a mãe, que tem a oportunidade de engravidar e ter um filho, esquece do papel mais importante, que é cuidar, dar carinho, amar e criar o filho com honestidade e dignidade. A história de Marilanze é uma das poucas que existem no país. Representa a força de uma mulher que busca e luta por dias melhores para muita gente.




Dona Marilanze na companhia dos filhos em sua casa no bairro Laguinho (Foto: Arquivo Pessoal/Marilanze Pinto)

Dos 40 filhos adotivos, muitos ganharam um destino precioso na vida. Os que foram tirados das ruas, hoje se encontram casados e empregados. Aqueles que foram criados desde a infância, cresceram, estudaram, ganharam carinho e amor. Há filhos adotivos morando em Santarém, Belém, Manaus, Rondônia e até em Portugal. Dona Marilanze diz que apesar de estarem longe, eles mantêm contato e estão sempre dispostos a ajudar. Além do respeito e carinho, ela diz receber presentes, e o mais importante, é chamada de mãe.


Atualmente, Marilanze divide a casa com os três filhos, um de 38 anos, uma de 34, outro de 26 e um neto de 19. Há 43 anos, ela se dedica às atividades diárias. Ela e os três filhos trabalham em um ponto de venda de frutas e verduras no Mercadão 2000, um dos mercados mais populares da cidade, que atrai centenas de pessoas o dia todo. Todos a ajudam nos afazeres do lar e ainda trabalham na feira, de segunda a sábado.


A casa não é tão grande e nem tão pequena, mas guarda uma história emocionante. Na sala, por exemplo, fotografias dos filhos biológicos e adotivos, dos encontros mais felizes e de momentos marcantes, como a da formatura de uma das filhas. A casa que vivia cheia, agora guarda lembranças surpreendentes.


De acordo com Marilanze, o equilíbrio total das coisas foi sempre fundamental para que ela conseguisse cumprir sua função de mãe. Prezando pelo tratamento igualitário e amor incondicional a todos que criou, ela confirmou que a mesma educação foi feita com cada um, até porque todas os filhos estão ao lado dela, mesmo morando em outras regiões. Marilanze se transformou na mãe que eles não tiveram. Todos os recursos para manter os filhos vieram da feira.




'Eu me sinto muito feliz como mãe, me sinto realizada', diz Marilanze Pinto (Foto: Adonias Silva/G1)


Uma das maiores dificuldades foi com a filha adotiva que atualmente mora em Rondônia, a empresária Maria Patrícia da Silva, de 33 anos. A menina, de uma família da região de garimpo, foi adotada ainda quando era criança e tinha vários problemas de saúde. “A mãe chegou para mim e disse: pega para você enterrar que eu não tenho condições. Cuidei dela, ela estudou e hoje está bem de vida. Hoje ela tem uma pizzaria”, contou


Hoje, apesar da distância e mesmo em contato com os filhos, a saudade fala mais alto. “Sinto falta deles porque eles não estão aqui. Naquela época era uma agitação, era uma alegria imensa. Só tenho a agradecer a Deus ter me dado o poder de criar todos esses meninos. Todos gostam de mim. Hoje, onde eu estiver, eles vão ao meu encontro. Eu ligando, eles me obedecem. Eles me tratam bem, me abraçam, me beijam”, disse.

“O que eu quero dizer para essas mulheres que não fazem papel de mãe, é que elas não sabem o que é amor”, diz Marilanze.


Devota de Santo Antônio, a feirante aproveita o melhor da vida ao lado dos filhos, trabalha e ainda aproveita o fim de semana para se divertir. No Dia Das Mães, recebe mensagens de carinho, presentes e a visita dos filhos. Segundo ela, o sábado e domingo são para se divertir. Mediante toda essa história, sempre se doou por completo aos filhos e aproveita sua experiência de vida para transmitir a mensagem do “ser mãe”.


“Eu me sinto muito feliz como mãe, me sinto realizada. Fico orgulhosa em ver um filho que eu não coloquei no mundo falar que eu sou a segunda mãe, que eu sou tudo para eles. Quando eu estava criando esses meninos, minha vida era trabalhar e não deixar faltar nada. Do jeito que comprava para um eu comprava para outro. Hoje não me arrependo de nada, tudo o que eu fiz foi com muito sacrifico”, comentou.

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