*ARTHUR VIRGÍLIO
Lisboa – A China, que vinha crescendo 9%, 10% e até mais, anualmente, prepara-se para faze seu soft landa, seu pouso suave, adaptando-se, por uns tempos, a taxas em torno de 7,5%. À primeira vista parece que essa taxa se revelaria incapaz de sustentar 1,3 bilhão de seres humanos. Mas o projeto chinês é sofisticado: enfrentar a inflação renitente que já não dá para disfarçar com maquiagens típicas de regimes autoritários; investir na qualidade de vida dos mais pobres, ordenar o processo de urbanização inevitável e fazer do seu desenvolvimento algo mais casado com o respeito ao meio ambiente.
O Brasil perderá em crescimento econômico com a programada redução do crescimento chinês. Hoje, exportamos nossas commodities, nossos produtos de base para lá e recebemos de volta artigos manufaturados, muitas vezes em concorrência com a indústria nacional. Viramos – e é lamentável constatar – uma espécie de "neocolônia" da China, que investe em inovação de um jeito que não temos sido capazes de fazer. Do jeito que vai, a tendência é esse quadro se agravar e nos tornarmos mais e mais dependentes do colosso asiático.
Mas o projeto chinês se resume em crescer menos com mais qualidade. Pretende, até 2020, deixar para trás a fama de país exportador de produtos de baixa qualidade e reduzido esmero tecnológico, para ser a pátria da altíssima tecnologia. Chegam a dizer: "a fase do made in China está virando passado. Vem agora o período áureo do desinbed in China".
Para o Brasil, haverá prejuízos: concorrência mais forte com nossa indústria e menos apetite por nossas commodities. Para a China é um passo calculado que trará no bojo a boa novidade da preocupação ecológica, nunca antes demonstrada tão claramente por uma economia que se marcou, por décadas, tanto por ser avassaladoramente dinâmica quanto por se mostrar altamente poluidora.
*Diplomata escreve semanalmente neste blog
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