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Coluna


ACORDA AMAZONAS!

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – Temos de agir com altivez, diante dos poderosos. A presidente Dilma Rousseff esteve em Manaus, disse desconhecer que o gasoduto ainda está inoperante, prometeu acabar com o vexame dos apagões e, de lambuja, ofereceu, "de presente" a nossa cidade, pelo seu aniversário, a prorrogação da Zona Franca por mais 50 anos. Essa mesma Zona Franca que ela própria está matando aos poucos, com suas Medidas Provisórias, seus Decretos e perigosas Portarias Ministeriais.
          A prorrogação é inadiável e necessária. Eu já a havia obtido, no Senado, por mais 10 anos (a Câmara está com a matéria nas mãos) e propus também duas outras PECs: uma prorrogando por 50 anos e outra estendendo os benefícios fiscais aos municípios da Região Metropolitana de Manaus.
          Sempre alertei, contudo, que isso é insuficiente para conter a trajetória descendente do modelo econômico que nos sustenta a economia. Sempre bati na tecla de que a infraestrutura falida anula grande parte das vantagens fiscais destinadas ao Polo Industrial de Manaus. Sempre insisti em que tão inadiáveis quanto a prorrogação eram o investimento em formação de mão de obra e inovação. Sempre firmei posição quanto a ser necessário debastar o emaranhado de leis e afins que complicam a existência útil da ZFM. Sempre me bati por atitudes de governo que pusessem fim à interminável burocracia que se impõe na entrada e na saída de mercadorias, partes e peças.
          Fiquei com a impressão de que a presidente nos toma por incapazes e raciocina à base do "vou oferecer-lhes a prorrogação se ajoelharão perante mim". Sinceramente, não posso crer que seja assim. Um povo que não souber definir seus objetivos estratégicos será sempre vítima do populismo e dos estratagemas mais primários armados por dirigentes insinceros.
          Acorda, Amazonas!

          *Diplomata


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ESTAMOS INDEFESOS

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – Falamos ontem na desmedida potência militar que os Estados Unidos representam e na necessidade de o Brasil reaparelhar Exército, Marinha e Aeronáutica, de modo a se tornar efetivamente capaz de proteger seu povo, seu território e, dentro deste, muito especialmente a Amazônia. Insisto em que não temos, felizmente, vocação imperial, mas que, nem por isso, poderemos permanecer indefesos diante de eventuais ataques externos.

          Lembro-me da patacoada que a última ditadura argentina patrocinou. Ditador que chegara ao pico da impopularidade, o general Leopoldo Galtieri resolveu unir a Nação em torno da chamada Guerra das Malvinas, contra a poderosa Inglaterra.

  O sentimento nacional se inflamou. As pesquisas de opinião passaram a mostrar um Galtieri popularíssimo.

Os argentinos passaram a se achar capazes de impor fragorosa derrota ao gigante britânico.

          Quando o encouraçado Belgrano saía do cais de Buenos Aires, a cidade inteira estava lá, as bandeiras e os lenços tremulando ao vento. Mais do que euforia, aquilo era mesmo um brutal delírio.

          E o Belgrano singrou as águas cheio de pompa, até que, informado por satélite americano, um torpedeiro o localizou e, com um só disparo, afundou-o cirúrgica e impiedosamente. Foi verdadeiro anticlímax.

          Nas Malvinas propriamente ditas, soldados ingleses adestrados e acostumados ao combate, armados do que havia de mais eficaz à época, ainda por cima vestiam roupas leves, porém térmicas, diante de inimigos inexperientes, trajando roupas pesadas que protegiam pouco do frio, armados como se estivessem na Segunda Grande Guerra. Aviões ingleses pousavam na neve, capazes que eram de descer e decolar praticamente sem pista nenhuma. Foi um morticínio.

          Grupos de elite encontravam 10 ou 12 argentinos dormindo e, menos interessados em matar do que em fazer guerra psicológica, degolavam três ou quatro, para que os sobreviventes, ao acordar, se deparassem com a cena dantesca e se desarvorassem por inteiro. A debandada foi geral

          Perdida a guerra, a ditadura definhou de vez, caiu e o velho caudilho Juan Perón, sem sair da Espanha, elegeu presidente da República seu preposto Hector Campora, que renunciou para que novas eleições se processassem e o peronismo pudesse eleger a segunda esposa do líder, Isabela Martinez de Perón.

          A palermice de Leopoldo Galtieri custou muito à Argentina. Custou a possibilidade de edificação de um projeto de país. Custou, por exemplo, diante de fiscais americanos e ingleses, o país do tango e do futebol bonito ter sido obrigado a destruir armas e equipamentos militares.

          A ditadura argentina foi colher lã e saiu tosquiada.

          *Diplomata


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FRANÇA
UMA GRANDE MULHER

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – Em breve, lerei "Ruth Cardoso - Obra Reunida", livro organizado por Tereza Pires do Rio Caldeira, ex-aluna da notável antropóloga, hoje lecionando em Berkeley, nos EUA. O Estado de São Paulo, em sua edição de 12 de novembro último, veiculou bela matéria intitulada "A Moderna Antropologia de uma Discreta Feminista", recomendando a leitura do trabalho concatenado por Tereza Caldeira.
          Difícil ver quem, teorize bem e, ao mesmo tempo, meta a mão na massa e transforme a teoria em realidade tangível. Pois Ruth era assim.
          Ouvia com paciência. Falava com precisão. E, tirado um consenso com seus discípulos e colegas, queria partir logo para a pesquisa de campo. Queria transformar a realidade numa coisa melhor. Queria fazer a parte que lhe coubesse com aplicação perfeccionista.
          Um grande ser humano. Uma grande mulher

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*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – A França é a segunda potência econômica da zona do euro. E, evidentemente, seu prestígio político só fica atrás da Alemanha de Angela Merkell.
          Fala-se muito por aqui num duunvirato, encabeçado por Merkell e sequenciado por Nicolas Sarkozy. Na verdade, são eles a palavra decisiva em relação aos rumos da crise européia. Mais ela do que ele, é verdade.
          Será deles o bônus de levar a empreitada a porto seguro. Será deles a responsabilidade maior por eventual fracasso.
          Diferentemente da Alemanha, que conta com economia bem redonda e certinha, embora crescendo menos que o desejável, a França possui certas fragilidades fiscais. Ciente disso, seu governo anunciou plano de ajuste preventivo, medida, a meu ver, bastante correta.
          Em poucas palavras, até a França, que possui situação privilegiada no concerto europeu, precisa adaptar-se a tempos de vacas magras. É questão de bom senso.
          O mundo, infelizmente, deverá crescer pouco por um bom tempo e isso repercutirá sobre todos os países, a começar pelo Brasil que, em 2012, crescerá menos que a média dos emergentes e menos até que a média mundial.

          *Diplomata


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ITÁLIA

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – A Itália é a terceira potência econômica da zona do euro e, portanto, sua crise, do ponto de vista da estabilidade regional, é muito mais grave que a da Grécia, por exemplo. Se ela não for resgatada, a União Européia estará praticamente desfeita, levando de roldão toda a arquitetura político-econômica penosa e pacientemente montada por Helmut Kholl e pelos demais estadistas do seu tempo.
          Nesse país, os títulos de 10 anos já correspondem a pesados juros de 7%. O desajuste fiscal é gritante. O baixo crescimento ameaça as soluções visualizadas. O desemprego é elevado. A crise política que culminou com a renúncia de Sílvio Berlusconi da chefia do governo foi fator desestabilizador o tempo todo.
          Berlusconi protagonizou uma das páginas mais vergonhosas da política de seu país. Seu comportamento cafajeste tirou-o das páginas sóbrias para os espaços policiais e de intrigas da imprensa mundial.
          Figura feliniana, promovia bacanais até com jovens menores de idade, dando, ele próprio, o nome de "bunga-bunga" a tais eventos. Sem compostura, referiu-se grosseiramente à chanceler alemã Angela Merkell como "aquela gorda incomível", apesar de, dias depois, ter de passar pelo constrangimento de se reunir com ela e demais chefes de governo da zona do, euro, ouvindo mais do que falando e tendo sobretudo de ver e ouvir a incontestável liderança européia de Merkell.
          A solução até poderia sair jogando-se na água Grécia e Portugal, que, juntos, somam menos que 6% do PIB da zona do euro. Mas não pode sair sem o resgate de Itália e Espanha que, no conjunto, atingem quase 30% desse mesmo PIB. Logo, como do ponto de vista político, qualquer país que abandone o euro poderá representar o símbolo da quebra de unidade. O bom senso manda que Banco Central Europeu, Fundo Monetário Internacional e Comissão Européia, a chamada troica, raciocinem economicamente, salvando Itália e Espanha, também politicamente, fazendo o mesmo com a Grécia e com Portugal.

          *Diplomata


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AÇÃO JUSTA

*ARTHUR VIRGÍLIO
          Lisboa – A Polícia Federal, muito certamente autorizada pela Justiça a pedido do Ministério Público, empreendeu devassa em documentos da Prefeitura de Benjamin Constant, a partir de denúncia de fraude em licitações para a compra de merenda escolar. Os desdobramentos desse fato deverão vir à luz nos próximos dias.
          A corrupção está cada dia mais ousada neste País. Agora nem as criancinhas escapam.
          Qualquer desvio de dinheiro público atinge a sociedade como um todo e é condenável. Quando se trata de expropriar crianças, a coisa fica ainda mais nojenta, porque mexe com vidinhas preciosas e embrutece o futuro brasileiro.

         






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TABLETS NÃO É NOSSO

*ARTHUR VIRGÍLIO

          Prorrogar a Zona Franca com uma das mãos e, com a outra, contra ela atentar, não levará o Amazonas a bom caminho. A MP 534, relatada, no Senado, pelo senador Eduardo Braga, simplesmente consagra a produção de tablets bem longe de Manaus. O governo federal jamais cogitou de ver esse produto chamativo, dinâmico, rentável, evoluído tecnologicamente, produzido no Polo Industrial de Manaus.
          Se a presidente da República tivesse querido dinamizar a ZFM, bastaria não ter editado a MP 534, que garante competitividade a São Paulo e ao Centro-Sul. Sabia, desde o início que essa MP nos condenava a ficar com tecnologias envelhecidas e precárias, destinando as mais dinâmicas para outros estados.
          Perdemos os modens, vemos ameaças sobre o polo de motocicletas, o próprio polo de televisores será posto em cheque mais hora menos hora. E o de celulares já está sob ataque.

          *Diplomata
 01/11/2011
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PRORROGAR É POUCO

*ARTHUR VIRGÍLIO
       02/11  

 Um projeto industrial leva, em média, oito anos para amadurecer. Ou seja, como a Zona Franca tem data marcada para acabar (2023), se não vier a prorrogação dos incentivos que a têm sustentado, a partir de 2013 nenhum investimento novo lhe baterá às portas. Nenhuma ampliação acontecerá. O parque industrial estagnaria absolutamente.
         
 Logo, somente pessoas desonestas intelectualmente ou demasiadamente ingênuas podem, de fato, declarar gratidão por um gesto que qualquer presidente, a esta altura do tempo, teria de adotar. Ou seria crível que, irresponsavelmente, deixassem morrer, de morte "morrida" um dos principais centros de produção industrial do País?
       
  Prorrogar é obrigação. Assim como resolver nossos gargalos logísticos e parar de agredir o modelo (como fizeram com a Medida Provisória dos tablets) é uma necessidade extrema.
         
O ministro Aloizio Mercadante, da Ciência e Tecnologia, declara que já existem oito empresas licenciadas para produzir tablets no Brasil, com isenção de 31% em impostos federais, valendo isso para qualquer parte do País. Leia-se: Centro-Sul, São Paulo à frente.
         
Pergunto: como poderia a ZFM, distante da malha rodoviária nacional, ilhada, porque sem saída terrestre, sem hidrovias, sem infraestrutura aeroportuária condizente, competir com estados mais ricos e mais bem situados geograficamente, ainda por cima contando com incentivos tão generosos? E vejam que nem computo as isenções estaduais e municipais, que elevam esses 30% para, no mínimo, 40%.
         
Entre essas empresas estão a taiwanesa Foxconn, a Apple e a HP e as japonesas Samsung e Semp Toshiba. Sempre associei a Samsung ao Distrito Industrial de Manaus. Mais ainda a Semp Toshiba.
         
Dói muito saber que o governo Dilma as incentiva a produzir tablets fora do Amazonas, deixando de gerar empregos para os nossos irmãos e, bem ao invés, construindo futuro para São Paulo e vizinhos.
         
Tenho PECs que prorrogam a ZFM. Não peço a ninguém que me agradeça por isso.
         
Por favor, deixem-me fora desse oba-oba em torno da "generosidade" da presidente Dilma, se sabemos que está na hora de prorrogar e qualquer um concordaria com a prorrogação, se estivesse no exercício da Presidência.
         
A prorrogação, sozinha, é pouco. Há muito mais a fazer, se queremos ser honestos com o Amazonas e com os amazonenses.

          *Diplomata

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