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Mais duas ações contra Lula caem por terra na Lava Jato

Amaral prestou depoimento nesta na 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita o processo contra Lula. Por cerca de três horas, na noite passada, o ex-parlamentar mostrou uma aparente “confissão”

Por Redação – de Brasília

Não bastassem a falta de provas no caso do triplex no Guarujá e o depoimento da empresa Granero, que nega qualquer irregularidade no armazenamento do legado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em bens materiais, o juiz Sérgio Moro vê mais um processo contra o líder petista cair no vazio. De cinco inquéritos a que responde, no âmbito da Operação Lava Jato, restam apenas dois adiante.

O senador cassado Delcídio do Amaral (PT-MS) admitiu ter agido por vontade própria

Esta ação penal segue contra Lula e mais seis pessoas por suposta compra de silêncio de Nestor Cerveró, ex-diretor da Petrobras. O senador cassado Delcídio do Amaral (PT-MS) agora apresenta uma nova versão dos fatos. Ele reiterou a tese contra Lula, mas não apresentou provas materiais e, menos ainda, assumiu o compromisso de dizer a verdade, e apenas a verdade.

Amaral prestou depoimento nesta na 10ª Vara Federal de Brasília, onde tramita o processo. Por cerca de três horas, na noite passada, o ex-parlamentar mostrou uma aparente “confissão”. Afirmou, no entanto, ter sido uma “sandice” procurar a família do pecuarista José Carlos Bumlai. Ele o teria feito, supostamente, a pedido de Lula, para obstruir a Justiça.
Cerveró

A investigação com base apenas na delação premiada de Amaral, prestada à Procuradoria-Geral da República no último ano, sustenta que o ex-presidente atuou para comprar o silêncio de Cerveró. Tentava fazê-lo antes que fechasse um acordo de delação com os procuradores da República.

O ex-senador narrou a conversa com o ex-presidente em uma reunião no Instituto Lula, ainda em maio de 2015. Teriam conversado sobre a possibilidade de Cerveró comprometer a ele e Bumlai em uma eventual delação. De forma completamente genérica, Lula teria dito a Delcídio para “ver essa questão do Bumlai”.

O “ver essa questão” teria sido interpretado por Amaral como uma “ordem”. O ex-senador decidiu, então, procurar a família do pecuarista. Este, por sua vez, teria sugerido o pagamento de R$ 50 mil mensais de ajuda financeira à família de Cerveró.
Uma sandice

“É nesse contexto que entendemos ter ele atribuído ao ex-Presidente Lula uma frase para que verificasse o que poderia ser feito para ajudar a família de José Carlos Bumlai. Essa afirmação, não foi comprovada. Não configura qualquer tentativa de obstrução à justiça”, informaram os advogados de Lula, em nota.

A narrativa hipotética confirma que o ex-presidente não emitiu uma “ordem” efetivamente. Delcídio admitiu, em seu depoimento, total responsabilidade.

“Cometi a sandice de tomar essa atitude”, confessou.

A fragilidade do depoimento prestado nesta quarta vai além. Tenta envolver o ex-presidente. O senador cassado afirmou que teve “muitas conversas solitárias com o presidente Lula”. Mas não apontou uma testemunha, sequer, que confirmasse a sua versão.

“Delcidio ainda admitiu não haver testemunha dessa narrativa. Ele reconheceu não ter intimidade com Lula. Apenas proximidade política por ser líder do governo a partir do início de 2015. E foi nessa categoria que o ex-Presidente o recebeu”, reportaram os advogados Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira.
Contratos

Delcídio do Amaral foi preso em novembro de 2015, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF). A prisão ocorreu após o filho do ex-diretor da estatal, Bernardo Cerveró, apresentar aos investigadores um áudio de Amaral. Ele esteve com a família de Cerveró, negociando a “mesada” e, inclusive, incentivando uma fuga do ex-diretor à Espanha.

Em nota, Zanin e Teixeira afirmaram que as declarações “revelaram de forma inequívoca que ele tinha interesse próprio no processo de delação premiada de Nestor Cerveró”.

“Delcidio Amaral admitiu que se sentiu ameaçado em conversas com familiares de Cerveró diante da possibilidade de o ex-diretor da Petrobras delatar supostos recebimentos de propina por ele, Delcidio, em contratos que a Petrobras firmou com a Alston e a GE, e, ainda, por supostas contribuições ilegais relativas à campanha de 2006 para o governo do Estado do Mato Grosso do Sul”, publicaram.
‘Mesada’

Ainda, a defesa de Lula lembrou que em depoimento prestado também à Justiça de Brasília, o próprio ex-diretor Nestor Cerveró disse que Delcídio do Amaral tinha interesses próprios em suas investidas e que a negociação da “mesada” buscavam dissuadi-lo de delatar contra o próprio ex-parlamentar.

E não apenas Nestor Cerveró, como também a advogada do ex-diretor e seu filho Bernardo, confirmaram os interesses individuais de Amaral. Assim, tentou envolver o ex-presidente Lula na tratativa planejada pelo ex-senador.

“Todos os demais depoimentos colhidos nessa ação penal colidem com a versão de Delcídio e deixaram claro que Lula jamais fez direta ou indiretamente qualquer intervenção no processo de delação premiada de Nestor Cerveró, seja para impedir, seja para retardar o ato”, concluiu a defesa de Lula.
Leia, adiante, a nota da defesa do ex-presidente:

Delcidio do Amaral foi interrogado nesta data (15/2) pelo juízo da 10ª Vara Federal de Brasília, no processo relativo à suposta “compra do silêncio de Nestor Cerveró”, sem ter assumido o compromisso de dizer a verdade.

Suas declarações revelaram de forma inequívoca que ele tinha interesse próprio no processo de delação premiada de Nestor Cerveró. Delcidio Amaral admitiu que se sentiu ameaçado em conversas com familiares de Cerveró diante da possibilidade de o ex-diretor da Petrobras delatar supostos recebimentos de propina por ele, Delcidio, em contratos que a Petrobras firmou com a Alston e a GE, e, ainda, por supostas contribuições ilegais relativas à campanha de 2006 para o governo do Estado do Mato Grosso do Sul.

Nestor Cerveró, quando ouvido como testemunha pelo mesmo juízo (8/11/2016), reconheceu, com o compromisso de dizer a verdade, que as investidas de Delcidio tinham interesse próprio – buscavam dissuadi-lo de delatar o próprio Delcidio. A advogada Alessi Brandão, que assessorou Cerveró no processo de delação, depôs na mesma data e confirmou o que foi dito pelo seu cliente. Na mesma direção foi o depoimento de Bernardo Cerveró, em 28/11/2016, na qualidade de principal responsável pelo processo de delação de seu pai.
‘Bazofia’

Hoje, Delcidio também admitiu em seu interrogatório fazer uso recorrente de “bazofia”, usando de afirmações que não correspondem à realidade. É nesse contexto que entendemos ter ele atribuído ao ex-Presidente Lula uma frase para que verificasse o que poderia ser feito para ajudar a família de José Carlos Bumlai. Essa afirmação, além de não comprovada, não configura qualquer tentativa de obstrução à justiça. Delcidio ainda admitiu não haver testemunha dessa narrativa. Ele reconheceu não ter intimidade com Lula, apenas proximidade política por ser líder do governo a partir do início de 2015 e foi nessa categoria que o ex-Presidente o recebeu.

Todos os demais depoimentos colhidos nessa ação penal colidem com a versão de Delcidio e deixaram claro que Lula jamais fez direta ou indiretamente qualquer intervenção no processo de delação premiada de Nestor Cerveró, seja para impedir, seja para retardar o ato.

Cristiano Zanin Martins e Roberto Teixeira

Publicado por CdBem: 16/02/2017

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